A conversação com tudo aquilo que não é cotidiano e comum, seja espíritos, deuses, entidades ou qualquer sorte de inteligências não humanas é algo que fascinou a humanidade desde sempre, e é algo que ela vem arriscando fazer (ou imaginando fazer, vai saber) desde sempre.
O desafio Charlie consiste em uma “invocação” individual ou coletiva, normalmente coletiva, porque sozinho o cagaço domina antes, de um espírito ou entidade que seria chamado Charlie. O invocador prepara um tabuleiro com “Sim” e “Não” em uma folha qualquer, dividida em um quadrado com quatro partes, dois “Sim” e dois “Nãos” e com duas canetas cruzadas, servindo uma de base e a outra de ponteiro, recita o mantra “Charlie, Charlie, Are You Here” ou em português “Charlie Charlie, Você esta aqui?” (Não sei por que não podemos falar “Carlos Carlos” acho bem mais localizado, desde que a dublagem não seja feita por cantores famosos), e então, você e seus amiguinhos prendem a respiração para ninguém assoprar a caneta e após alguma insistência, a entidade que responde por Charlie responderia com Sim ou Não… e se responder não, ela provavelmente esta brincando com você.
A maioria dos vídeos aparentemente mais sérios não dão continuidade na invocação, porque ou ela não ocorre ou quando supostamente acontece a galera foge antes, mas por estar disposto um “sim” e um “não”, aparentemente a entrevista ao Charlie deveria continuar, com perguntas objetivas.
Alguns sites gringos avisam que o Charlie não é alguém chamado Charlie que morreu ou um cognato para algum demônio, mas um nome genérico que faz com que um espírito ou entidade responda, este nem sempre amigável, ou seja, rola aquela porcentagem de azar do capiroto responder a sua chamada, mas a vida é assim. Outro aviso importante é que para encerrar a brincadeira você deve dizer “Charlie, Charlie, Can We Stop?” se a resposta for “Sim”, diga “Adeus” para encerrar a chamada, se disser “Não”, chame a virgem maria, reze o pai nosso, ou ligue em um canal de teleevangelistas. Caso você não se despeça, ou encerre a invocação sem a autorização do Charlie, o que quer que você esteja chamando pode continuar do seu lado na forma de vozes, risadas, e sombras… seja educado e despeça-se, ou tenha um santo forte.
A semelhança com as invocações das Tabuas Oija, ou sua versão brasileira, a famosa “Brincadeira do Compasso”, ou “Brincadeira do Copo” são bem claras, o Charlie Charlie Chalenge parece uma versão resumida, simplificada, que não carece das orações iniciais, finais, letras para se descobrir nomes e coisas específicas do invocado, o que me leva a pensar que para essa geração a coisa ta ficando muito mais fácil, afinal os Necromantes Medievais precisavam de velas, aparatos, estúdios, datas especificas, correspondências planetárias, incensos, várias noites no cemitério e dinheiro para subornar a igreja e não cair nas mãos da inquisição, a galera dos anos 90 só precisavam de caderno, lápis, compasso e ser basicamente letrado para juntar letras em palavras, e hoje, a coisa ta instantânea!
Agora vamos a pergunta que você pode estar se fazendo, “espiritualmente isso tem algum sentido?”, claro que vamos falar “espiritualmente” pois se você é absurdamente cético de alguma forma, desde o início não há sentido nenhum em seu sistema de crenças, seu sistema operacional lê essas possibilidades de outra forma, sorte sua.
Imagem: Apocalipse 2000
Assim como a Oija e a Brincadeira do Compasso, o Charlie Charlie Challenge é teoricamente uma pratica simplificada de Necromancia ou Nigromancia, que significa adivinhação pela morte, ou seja, obtenção de qualquer tipo de conhecimento através do contato com “o outro lado”, e sempre esteve associada a magia, mas de uma forma pouco benéfica, vide a cultura popular onde os necromantes são sempre os vilões badasses, desde o Hobbit até a série American Horror Story: Coven.
Uma das mais antigas práticas documentadas de Necromancia esta na Bíblia (aquele livro preto que ninguém lê, mas deveria) em 1 Samuel 28, quando o Rei Saul já velho e bem maluco, procura uma necromante para falar com o espirito do profeta Samuel para aconselhar-se, e Necromancia era uma prática proibida por Deus segundo os judeus, e o relato bíblico diz que a coisa toda funciona e o recém invocado Samuel fica puto da vida com a invocação e confirma uma profecia contra o Rei Saul.
Apesar de uma origem tão antiga, a propagação e a febre por conversar com o outro lado ocorreu em 1848 com as irmãs Kate e Margaret Fox, que teriam conseguido contatar o espírito de um vendedor usando a Tabua Oija, e espalhando a prática pela Inglaterra e Estados Unidos.
Existem várias explicações para o fenômeno Oija, como o efeito ideomotor, onde os participantes involuntariamente exercem uma pequenina força, muitas vezes inconsciente para movimentar o copo, indicador ou compasso, James Randi, o ilusionista caçador de supostos espiritualistas, membro da trindade ateísta (brincadeira gente, calma) demonstrou por exemplo que as indicações de Oija não funcionam se os participantes estiverem de olhos vendados. Mesmo com estas “provas” existem contra argumentos espiritualistas que defendem a ação de espíritos através do corpo dos envolvidos na prática e por isso parcialmente limitados de suas percepções fantasmagóricas, mas deixemos isso para outro momento.
“Mas eu quero o capeta mesmo!”, vá para a Goécia, e saiba ao menos o RMP.
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