O mundo assistiu atônito o julgamento de uma das mentes mais cruéis, frias e carismáticas do Século XX. Estamos falando de Ted Bundy, o terceiro Serial Killer a ser retratado nesta série de artigos sobre o assunto. Apesar de ter alguns advogados à sua disposição, ele promoveu sozinho a maior parte de sua defesa, tamanho era o seu ego e senso de superioridade. Durante a audiência, uma cena em particular chamou a atenção de todos. Ao interrogar a testemunha Carole Boone, ele a pediu em casamento e ela aceitou. Como a lei da Flórida reconhecia como uma declaração de casamento em um tribunal sob a presença de um juiz, Bundy casou-se mesmo a polícia tendo provado ter sido ele o autor de cruéis assassinatos contra mais de trinta mulheres.
Iniciei este artigo com esse acontecimento para ilustrar uma das principais características de Ted Bundy e que foi fator principal para ele conseguir atrair suas vítimas sem levantar nelas suspeita alguma: o carisma e a beleza. Aliás, se o ótimo filme sobre esse assassino fosse exibido na Sessão da Tarde, o título poderia ser “Ted Bundy, quem vê cara não vê coração“. Deixando as piadas de lado, ele soube como ninguém mascarar sua personalidade psicopata de maneira a atrair a atenção e a confiança das mulheres. Mesmo na prisão, ele recebia inúmeras cartas de fãs que diziam amá-lo. Foi por essa característica que, em meu livro Sonhos e Delírios, o escolhi para ser o mordomo do castelo do Reino de Loucura.
Nascido Theodore Robert Cowell em 24 de Novembro de 1946 no estado americano de Vermont, apenas após muitos anos descobriu que aqueles que pensava ser seus pais (Samuel Cowel e Eleanor Cowell) eram na verdade seus avós maternos e a suposta irmã mais velha era sua mãe. O nome desta era Eleanor Louise Cowell, mas para não ser confundida com sua progenitora, todos a chamavam de Louise Cowell.
A identidade real do pai de Ted nunca foi confirmada e, para que a não enfrentasse a vergonha de ser uma mãe solteira, a família mentiu para todos sobre os verdadeiros pais da criança. Várias versões sobre de quem Louise engravidou existem. A mais impressionante é de que ela foi violentada por seu próprio pai, Samuel Cowel.
Desde cedo o pequeno Ted tinha comportamentos estranhos. Sua tia, Julia, disse que uma vez acordou com o colchão rodeado de facas encontradas na cozinha e ao lado de sua cama estava o garoto com um sorriso sádico no rosto. Ele tinha apenas três anos de idade quando isso ocorreu. Episódios onde ele conversava com amigos imaginários e cometia crueldades com animais não eram raros.
Ele viveu os três primeiros anos de sua vida no estado da Filadélfia. Em 1951, já no estado de Washignton (não confuda o estado – no extremo noroeste dos EUA, com a capital do país), ganhou o nome pelo qual ele ficou famoso quando sua mãe se casou com Johnny Bundy e este o adotou oficialmente. Johnny tentou ser para Ted o pai que ele não teve, mas Bundy sempre se mantinha distante de seu padrasto. Na verdade, ele se mantinha isolado de qualquer pessoa por não saber se relacionar com ninguém. Algumas vezes ele chegou a declarar que não entendia que motivos levavam as pessoas a serem amigas. Isso é um dos principais fatores que levam a crer que ele era um psicopata. Em busca de algo que o motivasse, ele cometeu pequenos crimes, mas ao fazer 18 anos, teve seus registros policiais excluídos por exigência da lei do estado de Washington.
Ted Bundy era um jovem muito inteligente e não foi para ele difícil ingressar em uma universidade. No entanto, ele não ficou mais do que três anos, desistindo por não ter paciência para assistir às aulas, especialmente por não querer fazer trabalhos em grupo, uma exigência comum da maioria dos professores. Fora da faculdade, ele namorou algumas garotas, trabalhou em diversos empregos e, como a maioria dos psicopatas, se envolveu com a política, sendo um promissor militante do Partido Republicano.
O namoro mais sério que ele teve foi com Stephanie Brooks, mas ela terminou com ele considerando-o imaturo e voltou para a casa de seus pais na Califórnia. Isso o deixou arrasado e ele viajou pelo Colorado, Arkansas e Filadélfia até voltar ao estado de Washington em 1969 e ingressar novamente na Universidade de Washington e se formar em Direito como um dos melhores alunos, em 1972. Nesta época ele teve um namoro conturbado com uma funcionária da faculdade, Elizabeth Kloepfer. Em uma viagem à Califórnia, ele reencontrou Stephanie e reatou o namoro com ela, mas sem terminar com Elizabeth. Uma não sabia da existência da outra e ele namorou as duas até um dia desistir de Stephanie e nunca mais entrar em contato com ela.
Ninguém sabe exatamente quando Ted Bundy começou a matar. Em alguns depoimentos ele confessou ter tirado a vida de duas pessoas em 1969 em Atlantic City, aos 22 anos. Depois ele negou essas mortes. Muitas evidências ligam ele ao assassinato de Ann Marie Burr de apenas oito anos em 1961 quando ele tinha apenas 14 anos de idade. Esse seria de fato seu primeiro crime fatal
No entanto, se nos basearmos nos crimes pelos quais ele foi condenado, isso aconteceu em Fevereiro 1974, quando ele tinha 27 anos de idade. Ele invadiu o porão da casa de Lynda Ann Healy, jovem de 21 anos, bateu em sua cabeça até deixá-la inconsciente e a levou para um local onde a estrupou para depois matar. Depois desse crime, a média de estudantes desaparecidas e mortas era a de uma por mês.
Antes deste primeiro assassinato documentado, em Janeiro 1974 ele fez uma vítima que, apesar da violência, sobreviveu. Ela tinha 18 anos de idade e se chamava Karen Sparks. Usando seu carisma, ele a levou para casa e lá teve relações sexuais com ela. Quando ela estava sonolenta, ele a acertou com um pedaço de metal, deixando-a desacordada. Depois, ele a penetrou seguidas vezes com um Espelho Ginecológico (foto abaixo). Ela ficou presa e desacordada por dez dias, mas sobreviveu. Ela ficou com danos cerebrais permanentes e, incapaz de se comunicar de maneira satisfatória, foi solta por seu algoz.
Apenas no ano de 1974 foram nove vítimas nos estados de Washington e Oregon, mas algumas fontes dizem que estes números são maiores. Neste mesmo ano ele se mudou para o estado de Utah, onde cometeu outros oito assassinatos. Além desses crimes, em 1974 e 1975, ele viajou aos estados do Colorado e Idaho e matou respectivamente mais quatro, duas mulheres.
A polícia não tinha certeza ainda da ligação de todos esses casos, mas o assassino das jovens garotas já era procurado em cinco estados do oeste dos Estados Unidos. Testemunhas viram algumas das vítimas saírem de carro com uma pessoa com as mesmas características de Ted Bundy, mas demorou até a polícia encontrar provas o bastante para incriminá-lo. Cidadão exemplar e membro da Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, conhecidos como mórmons (cuja sede é em Salt Lake City, uma espécie de Cidade Sagrada desta religião), muitas pessoas acreditavam em sua inocência.
Enquanto os crimes aconteciam, sua ex-namorada Elizabeth Kloepfer ligou três vezes para a polícia de Utah contando suspeitar que Ted era o autor dos assassinatos. O que a fez acreditar nisso foi uma série de fatores: sempre que ele se mudava para uma cidade, crimes do mesmo tipo aconteciam em locais próximos, o comportamento dele era estranho quando alguém comentava sobre estes crimes, a descrição que as testemunhas davam sobre o possível criminoso “batiam” com as dele e um dia ela encontrou na casa de Ted alguns objetos estranhos, como um martelo para picotar gelo, instrumentos ginecológicos e máscaras.
No entanto, a polícia não deu muita importância ao que ela disse até Agosto de 1975. Neste mês, ele foi preso pela patrulha rodoviária de Utah após não parar o carro para uma blitz de rotina. O policial notou que o fusca que Ted dirigia não tinha o banco do passageiro e resolveu revistar o veículo. Lá dentro encontrou máscaras, luvas cirúrgicas, martelos, sacos de lixo e outros objetos estranhos. A polícia estadual foi informada e, como ele era o principal suspeito de vários assassinatos e resolveu colocá-lo sob vigilância após ele ser liberado pela patrulha rodoviária.
Os investigadores voaram até Seatle, capital do estado de Washington, para conversar com Elizabeth Kloepfer e o depoimento dela deixou-os ainda mais convecidos de que ele era o homem que procuravam. Quando ele vendeu o carro em que tinha levado várias de suas vítimas para comprar outro, a polícia fez uma busca detalhada no carro e encontrou fios de cabelos de várias das mulheres assassinadas, além de evidências sanguíneas e impressões digitais. Os detetives que investigavam o caso em diferentes estados se reuniram para troca de informações e, assim, reuniram provas que o levaram à prisão.
Como era formado em direito, Ted Bundy solicitou ser seu próprio advogado, o que foi autorizado pelo juiz do caso. Por causa disso, ele tinha o direito a frequentar a biblioteca do fórum criminal para que pudesse estudar e se preparar para o julgamento. Em 07 de Junho 1977 (exatemente um mês após meu nascimento), no recesso de uma audiência preliminar, ele foi autorizado a consultar livros de direito no local acima citado. As algemas foram retiradas e um policial ficou do lado de fora para evitar que ele escapasse. No entanto, na rua onde estava o tribunal a segurança era mínima. Sendo assim, Ted abriu a janela e saiu pelo telhado. Para completar sua fuga, roubou roupas do varal de uma casa vizinha e sumiu do estado para continuar a praticar crimes.
Ted Bundy foi para o mais distante local possível, que no caso era o estado da Flórida. A viagem demorou vários dias, já que ele precisava roubar carros ou seguir de trem e ônibus com identidades falsas de pessoas a quem ele assaltou. Em 1978, apenas uma semana depois de chegar à cidade de Tallahassee, ele invadiu a casa da Fraternidade ΧΩ, onde só moravam garotas. Era de madrugada e a ação dele, segundo a polícia, durou menos que vinte minutos e deixou quatro vítimas: Margaret Bowman, Lisa Levy, Kathy Kleiner e Karen Chandler. Todas estavam dormindo e foram agredidas com pancadas fortes na cabeça seguido de estupro e outros atos de extrema violência. Kathy, por exemplo, perdeu dentes, sofreu com o maxilar quebrado e o ombro dilacerado. Já Lisa, teve os mamilos arrancados com os dentes. Nenhuma testemunha ouviu nada do que aconteceu.
As mortes continuaram e se tornaram notícia em todo país. Como as vítimas tinham as mesmas características e os crimes eram muito parecidos com os cometidos em outros estados entre 1974 e 1975, o FBI suspeitou que fosse Ted Bundy o homem disso e colocou seu nome na lista dos dez criminosos mais procurados dos EUA. Ele passou então a mudar-se para outras cidades e estados, mas foi finalmente preso ainda no ano de 1978.
Seu julgamento foi um verdadeiro circo. A repercusão foi mundial e a imprensa de diversos países acompanhou cada passo do tribunal. Apesar de contar com advogados à sua disposição, Bundy defendeu a si mesmo. As provas contra ele, apesar de tudo, não eram tão contundentes quanto os policiais acreditavam e havia um enorme risco de ele ser inocentado. No entanto, seu narcisimo fez com que ele fizesse a maior parte de sua própria defesa e, como advogado sem nenhuma experiência, ele não conseguiu se livrar da condenação para a cadeira elétrica.
Durante quase todo o tempo, Ted Bundy negou os crimes, mas às vésperas de ser executado, ele confessou parte dos assassinatos. Apesar de assumir a autoria de 30 homicídios, a polícia diz que esse número pode ser o dobro disso. Muito se falou e se escreveu sobre Ted Bundy e o estudo de sua personalidade e modo de agir ajudou a entender um pouco melhor a mente de Serial Killers como ele.
Suas vítimas eram sempre jovens muito belas, com cabelos à altura dos ombros e repartidos ao meio. A forma de abordagem demorou a ser descoberta. Ele usava, além de sua beleza e carisma, um método muito eficaz. Ted fingia ter algum tipo de deficiência física ou mesmo estar machucado e pedia ajuda às garotas para retirar algo do carro. Quando elas o seguiam, ele as deixava desacordadas com uma pancada forte na cabeça ou simplesmente as estrangulava. Com isso, fazia pouco ou nenhum barulho e conseguia fugir calmamente. Com outras vítimas, como foi o caso das estudantes da ΧΩ, ele inviadia a casa de madrugada e saía sem deixar evidências.
Mesmo com todos esses crimes, conforme já foi citado, ele ainda provocava suspiros em muitas mulheres. Vários cartazes de apoio foram levados às portas do tribunal durante seu julgamento e ele foi o prisoneiro do estado da Flórida que mais recebeu cartas até hoje. Em 1989 Ted Bundy foi eletrocutado, mas sua história ainda repercurte, seja na literatura ou no cinema. Existem outros como ele por aí. E não necessariamente um homem, pode ser também uma bela mulher. Sendo assim, antes de aceitar carona daquela pessoa atraente, pense que você pode ser mais um número a aumentar a estatística de criminosos como esse.
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