Olá, freaks e freakas! Se você é um comprador assíduo de HQs já deve ter bloqueado um monte de mensais para se focar nas coleções preta e vermelha da Salvat e na coleção DC Eaglemoss, certo? Mesmo que estas estejam chegando ao exorbitante preço de um pacote de feijão…
Pois então… como ando tão na pindaíba que quando vejo um mendigo é ELE quem me OFERECE dinheiro, não venho acompanhado nenhuma dessas coleções com regularidade. Bem, isso e o fato de poucos títulos realmente me interessarem. Na coleção da Eaglemoss eu não passei nem perto devido o fato de as únicas edições que realmente me interessavam, que seriam a 1 e a 2 PRINCIPALMENTE pelo baixo valor de capa, nunca terem sido lançadas na região Nordeste graças a uma decisão “caguei pra vocês” da Eaglemoss. Sim, eles não lançaram e disseram que NUNCA irão lançar por aqui. E, pelo preço cobrado nas edições atuais, minha total falta de apreço pela editora só aumentou…
Já no campo da Salvat, eu comprei algumas da coleção preta e apenas 3 da coleção vermelha. Foram elas as edições 1 e 2 (a 1 por causa do valor e a 2 por ser Homem-Aranha nas mãos do Romitinha antes de despirocar e começar a desenhar com o lápis enterrado no c*) e a única edição pela qual esperei com fervor e alegria em meu pobre coração sertanejo: Demolidor!
Talvez você não concorde comigo, mas enquanto a coleção preta tem algumas histórias que variam entre o bom e o SENSACIONAL, a coleção vermelha soa como um apanhado vagabundo de histórias de personagens que NINGUÉM jamais compraria caso saísse em uma mensal ou numa mini série em 6 partes, como a Hárpia , o Homem Múltiplo, Os Três Guerreiros , Polaris, Magnum e Vespa por exemplo. O que move as vendas dessa coleção são 3 possíveis fatores:
No entanto, dentre todos esses títulos, com mais baixos que altos, Demolidor trás uma das melhores sagas do personagem em todos os seus anos de existência, O Homem Sem Medo, de Frank Miller e John Romita Jr. em seus melhores. Aliás, muito me surpreendeu que algo desse calibre tenha sido deixado no meio dessa coleção vagabunda ao invés de ir para a melhor posicionada coleção preta, que já nos presenteou com outro grande clássico do Chapolim Colorado Infernal, A queda de Murdock, também de Miller. Agora, falemos da edição em si.
Como se tornou de praxe na coleção vermelha, a edição sempre trás uma história clássica do personagem que estampa a capa, geralmente a número 1, seguida de uma mini série mais “recente”. Na edição do Demolidor temos o número 1 de sua longeva saga, escrita por Stan Lee e desenhada pelo criador do Namor, Bill Everett.
A história trás aquele velho roteiro a la Stan Lee, corrido demais afim de contar muito em apenas 20 páginas, cheio de momentos pra lá de abobalhados e redundantes com relação ao que era mostrado no desenho e com alguns involuntários momentos de duplo sentido, como, por exemplo, quando o Demolidor resolve transformar sua bengala em um bastão e segue-se o seguinte texto descritivo:
” Durante a longa noite, o homem cego trabalha…seus dedos sensíveis moldando e manipulando sua bengala…”.
Poesia pura. Sei que o roteiro do Lee era algo bem comum para a época, mas fica difícil hoje em dia levar muito a sério e até mesmo ler sem se cansar. A impressão que se tem é que o jovem Stan Lee parecia estar escrevendo para aqueles livrecos infantis que vem com um DVD com historinhas pessimamente animadas e que plagiam “discretamente” a Disney com títulos como “O Príncipe Leão” , ” A Sereia Pequenina” e “O Homem Com Desvio Cervical de Notredame”. Ainda assim, mesmo sabendo das falcatruas por trás das criações do senhor Lee, eu reconheço seu valor histórico.
Quanto aos desenhos, Bill Everett é um artista cujo auge foi nos anos 30/40 e, ainda assim, consegue ser muito competente em uma história dos anos 60.
No entanto, nem tudo são flores na arte de Everett, que as vezes faz uns quadros com desenhos mais “duros” sem falar no péssimo hábito de sempre desenhar Matt trajando apenas botas e sunga quando vai treinar, tal qual um lutador de luta livre. Ou como um certo integrante de um certo blog que costumava dançar lamba – aeróbica de shortinho e coturno nas praias do Rio no carnaval de 1997…
Ah, e assim como Stan Lee faz na narrativa, Everett trás momentos de duplo sentido involuntários em seus desenhos também. Como na cena onde Slade, o assassino do pai de Matt, espreita sua vitima em uma esquina escura segurando suma arma pelo bolso do paletó. No desenho parece mais que o personagem está tendo uma ereção e que seu objetivo inicial não seria exatamente matar Jack…
Historinha datada, mas de inestimável valor histórica à parte, temos a cereja do bolo da edição. A sensacional mini série “O Homem Sem Medo”, de 1993, que trás o roteiro primoroso de um Miller ainda em grande forma e a arte de um John Romita Jr. que é não só um colírio para os olhos como também uma aula de narrativa visual.
Se você não conhece está preciosidade mas assistiu toda a série do Demolidor pela Netflix, saiba que está mini série é a base para muito do que é visto na primeira temporada, destacando-se principalmente o hoje famoso uniforme negro, que teve origem aqui.
Você não verá um Demolidor vestindo seu tradicional colante vermelho, não o verá enfrentando supervilões, não o verá alegre e piadista como na supracitada edição escrita por Stan Lee e desenhada por Bill Everett. Em “O Homem Sem Medo” somo jogados em uma trama que mistura drama, ação, romance e vingança na medida certa e sem grandes exageros, sendo uma história perfeita para as telonas devido seu alto nível de realismo, mas que foi sumariamente ignorada em prol do carnaval de efeitos vagabundos e roteiro xexelento que acabou virando o filme de 2003, estrelado por Bem Afleck.
Aqui somos introduzidos a um jovem Matt Murdock ainda longe de se imaginar como um vigilante mascarado, mas cheio de raiva contida e que anseia por fazer justiça contra os responsáveis pela morte de seu pai. Somos introduzidos a um Matt Murdock que libera essa raiva e acaba por cometer erros fatais, que o levam a conter essa raiva mais uma vez. Somos introduzidos a um Matt Murdock que conhece seu melhor amigo na figura de Franklin “Foggy” Nelson, o qual o mostra que a vida não é apenas isolamento e ira. Somos introduzidos a um Matt Murdock que conhece o amor através de uma jovem e rebelde Elektra, que tenta alertá-lo para seu lado obscuro, mas que Matt prefere não acreditar até que um dia seja tarde demais. E somos introduzidos a um Matt Murdock que ganha um eterno nêmesis na figura de Wilson Fisk sem nem ao menos encontrá-lo ainda.
A grosso modo, ler O Homem Sem Medo é como assistir a um ótimo filme de ação oitentista que segue num crescendo vertiginoso e nos entrega um clímax que, caso fosse mesmo um filme, merecia ser aplaudido de pé assim que as luzes se acendessem. Vale alertar pra quem só viu a série e irá ler essa HQ por indicação, que o Demolidor aqui chega a MATAR de fato. Então, estejam avisados pra não se chocarem.
Como falar mais seria rasgar ainda mais seda, vamos voltar a edição da Salvat. Como todo mundo sabe, as coleções sofreram aumentos. A Eaglemoss já está na exorbitante casa dos R$44,90 enquanto a Salvat segura um ainda caro R$39,90. Ao ser lançado nas demais regiões do Brasil ela custava R$36,90, um preço ainda aceitável. Mas, como o atraso com relação a região nordeste é de 3 meses, eu paguei os R$39,90 com certa dor no coração. No entanto, O Homem Sem Medo se tornou uma daquelas HQ extremamente raras e isso fez que o valor, tanto da mini série em circo partes da Abril, quanto a edição de luxo da Panini chegassem a preços ridículos pelos Mercados Livres da vida. As vezes dá a impressão que os vendedores acham que estão vendendo um dos testículos de Cristo.
E é exatamente por isso que R$39,90, mesmo que não seja uma maravilha de preço, ainda serve como uma chance de você ter esta perola sem ter que vender um rim e ainda dar um tapa com luva de pelica cheia pedras na cara das pessoas que te impossibilitaram de ter essa edição quando tentaram te empurrar pelo valor de uma entrada de um carro 0 KM.
Ao fim de toda a edição da coleção Vermelha, sempre temos algumas páginas com um breve histórico do personagem que estampa a capa. No caso do Demolidor temos algumas curiosidades interessantes sobre a criação do personagem seguidas de duas inúteis páginas REPETINDO TODA A HISTÓRIA QUE VOCÊ ACABOU DE LER! Um baita desperdício de espaço que poderia ser melhor preenchido com alguns fatos desconhecidos sobre a produção de O Homem Sem Medo ou com alguns esboços de John Romita Jr.
Pra completar, essa mesma sessão vem com o título “A Queda de Murdock” colocado erroneamente logo após o parágrafo que descreve a saga e, ainda por cima, a ultima fase dessa sessão é “Operando como um dos principais heróis de Nova Iorque, O Homem Sem Medo é realmente” e acaba! Assim mesmo, sem conclusão! Acho que o revisor deu aquela cochilada marota aqui…
No mais, “Os Heróis Mais Poderosos da Marvel: Demolidor” é uma edição que vale mais do que a pena ter em sua coleção, independente de formar desenhos de lombada ou coisa que o valha, pois ela trouxe duas coisas de volta as bancas que eu não via fazia tempo:
1- Uma ótima história e…
2- Uma edição que desapareceu em questão de horas das prateleiras.
Os Heróis Mais Poderosos da Marvel: Demolidor
Editora: Salvat
Ano:2016
Nota: 10