[Resenha] Renascer da Magia – Kenneth Grant

Relendo o Renascer da Magia (pela primeira vez de maneira correta) eu entendi o por que deste livro abrir as produções editoriais da Penumbra editora, por que já diz logo de cara a que veio, quem é, e o que quer.

Meu primeiro contato com o Renascer da Magia do Grant foi bem confuso, resolvi começar na literatura oculta e mística através dos clássicos, lá fui eu pegar o Agrippa e o Papus, e são ótimos, mas chatos, e em alguns pontos já defasados, tendo em vista que a possibilidade de consulta e comparação de dados hoje é muito melhor do que na época desses pioneiros místicos. Logo fui parar em uma versão do Renascer da Magia em .pdf, mas incompleta, e sinceramente, não entendi bulhufas do que lia. Então fui par ao Phil Hine, mais didático, e também um herdeiro do Grant.

Kenneth Grant, este surtado, secretário (termo bonito para “faz-tudo”) e brother do velho Crowley, tem um mérito de maior destaque que muitos outros estudiosos do oculto, pois além de desenvolver o sistema de seu mestre Aleister, ainda “limpou” a ritualística tão comum de seu período a um mínimo necessário para os resultados. Contudo, o fez sem “simplificar a coisa toda”, sem “perder simbolismo e potencial místico” sem “desrespeitar os milênios de conhecimentos sobre a origem da literatura mágica”, que são críticas comumente feitas aos adeptos modernos, sobretudos caoístas (gentinha suspeita que se aproxima dessa linha conturbada e maravilhosa de trabalho). Inclusive no Renascer da Magia existe muito da teoria e prática do artista Austin Osman Spare, cujo legado foi identificado posteriormente como “criador” da linha da Magia do Caos.

A proposta de “atualização” na magia proposta por Grant é vista também na abordagem feita a panteões modernos, o que hoje chamaríamos de deuses “pop”, e é incentivado a conversação e o contato com entidades supra-humanas, o que é sempre uma experiência interessante, quer você acredite em uma existência objetiva destas inteligências ou tenha a compreensão de que são egrégoras e memeplexos que tornam-se acessíveis pela, para e por a mente humana. E nunca em nenhuma era criamos tantos deuses e inteligências possíveis, quanto no ultimo século, seja o Cthulhu Mytos, os Novos Deuses da DC, os Celestiais da Marvel, os Perpétuos de Sandman ou o Cal de Kalciferum.

Sobre uma questão mais técnica, a edição da Penumbra esta em uma qualidade gráfica impecável. Capa dura para mim é essencial para a durabilidade do livro, por ser uma leitura densa, carreguei minha edição para tudo quanto é canto na mochila, em uma condição pouco confortável para ele, já esta bem surrada na capa, passou por chuva, sol e adolescentes, mas o miolo e conteúdo do livro estão perfeitos. As páginas são de boa gramatura, dando corpo ao livro e facilitando a troca de página.

A contra-capa é belíssima! É um tanto inspirador estas sob o olhar de grandes nomes do ocultismo que estão representados neste espaço. O valor um pouco salgado para o meu bolso de professor de escola pública, podcaster (isso não da dinheiro, a não ser que você diga Lambda 3x) e estudante de ocultismo da periferia, assusta em um primeiro momento, mas o livro em si já vale, a qualidade da edição então justifica. Fora que, fica lindo na estante da biblioteca. Se você for cuidadoso, seus bisnetos terão o livro.

Há a Magia Sexual também! Pouca gente na história da literatura hermética tratou tão bem e de maneira tão coerente a temática ainda hoje cheia de tabus, a cerca desta Grant discorre com todo o aparato simbólico para você sacar o que é, para que serve, como usar, como representar, e a diferença ente usar o sexo para fazer magicka, e usar (ou falar de) magicka para fazer sexo. Dica 1: a segunda quando é magia, não é Magia Sexual; Dica 2: tem uma galera por ai fazendo só segunda; Dica 3: o orgasmo e a energia sexual é a chave.

Uma nota que é importante sublinhas, o Renascer da Magia Não é uma obra introdutória no sentido de ser um Bê-A-Bá do ocultismo, não é mesmo, e nem se propõe a ser. Fica a impressão de ser um convite à outros adeptos para olhar a própria prática Magicka e se possível, reentende-la, atualiza-la, para não manter a retro-alimentação de palavras vazias, dogmas inúteis e ordens mortas. Ler o Renascer da Magia é como acompanhar o fluxo de uma mente criativa e profunda, rica em associações diversas e de grande conhecimento simbólico… na verdade, não é “como” fazer isso que acabei de escrever, é exatamente fazer isso.

Não tem como descrever o livro sem cometer um de dois terríveis pecados, um, ser terrivelmente específico, a ponto de montar um verdadeiro “curso” sobre seus conteúdo, ou dois, ser terrivelmente genérico e não abordar os pontos para permitir a surpresa do leitor. Escolho o segundo pecado. Ou, assim que terminar as postagens de Tarot, falta uma ou duas, escolha o primeiro pecado… quem sabe.

Dúvidas e questões nos comentários ou nas redes sociais ;]

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