Pessoas desaparecendo para sempre nos Parques Nacionais dos Estados Unidos, em circunstâncias estranhas e semelhantes. Tristes desaparecimentos ou obras de forças sobrenaturais?
“Missing 411” corresponde a uma série de livros de não ficção escritos pelo policial aposentado David Paulides, que documenta casos não resolvidos de pessoas desaparecidas em Parques Nacionais e Florestas nos Estados Unidos e sul do Canadá, todas sob circunstâncias semelhantes.
Quando questionado em uma entrevista de rádio sobre qual seria o significado do “411” em “Missing 411”, ele explica que seria uma gíria antiga para “informação”.
Isso porque 411 costumava ser o número de telefone dos classificados locais: quando você queria uma determinada informação sobre uma pessoa, recorrer aos classificados poderia ser uma forma de obtê-la. Logo, “Missing 411” significa “Informação Perdida”.
De acordo com o Instituto Nacional de Justiça dos Estados Unidos, estima-se que, em qualquer dia, existem naquele país uma média de 100.000 casos abertos de pessoas desaparecidas.
Além disso, segundo dados levantados por essa instituição, mais de 40.000 conjuntos de restos humanos que não podem ser identificados por métodos convencionais são mantidos em salas de evidências pelo país, e apenas 6.000 desses casos (15% deles) foram registrados no banco de dados do FBI, o Centro Nacional de Informações de Crimes.
Esses dois fatos configuram o que a instituição chama de um verdadeiro “desastre nacional silencioso”.
Evidentemente, a grande maioria dos desaparecimentos nos Estados Unidos ocorre em grandes centros urbanos. No entanto, quando o assunto se trata de apontar exatamente quantas pessoas desaparecem nos quase 2.600.000 km² dos parques nacionais existentes no país, observa-se uma dificuldade.
O problema é que, apesar de o Departamento de Justiça dos Estados Unidos manter um banco de dados de pessoas desaparecidas, o Sistema Nacional de Pessoas Desaparecidas e Não Identificadas, o registro de casos é feito de forma voluntária na grande maioria dos estados, e essa voluntariedade também se aplica para delegacias e institutos médicos legais. Em outras palavras, um grande número de pessoas desaparecidas não consta no banco de dados.
Depois do 11 de setembro, o Departamento de Interior dos Estados Unidos tentou elaborar seu próprio banco de dados para registrar desaparecimentos nos parques nacionais. O resultado foi um gasto de cinquenta milhões de dólares em um sistema que mal foi implementado.
Assim, as estimativas dos números de pessoas que desaparecem em parques nacionais nos Estados Unidos ficam nas mãos de civis e teóricos da conspiração: acredita-se que pelo menos 1.600 pessoas, e talvez mais, permanecem desaparecidas em parques nacionais.
No mundo dos teóricos da conspiração, David Paulides foi o responsável por sugerir que haveria algo de estranho acontecendo nos parques nacionais americanos.
Paulides, um policial aposentado, afirma que suas investigações acerca deste assunto começaram quando um guarda florestal fora do serviço o procurou, e demonstrou preocupação sobre a natureza questionável de alguns dos casos de pessoas desaparecidas que ocorreram em parques nacionais.
Em 2011, Paulides lançou o “Projeto CanAm Desaparecidos”, com o objetivo de catalogar casos de pessoas que desaparecem (ou são encontradas) na natureza ao longo da América do Norte, no que ele chama de “circunstâncias misteriosas”. Participam do projeto policiais aposentados, experts de busca e resgate e outros profissionais.
Até o ano de 2017, Paulides já havia escrito seis livros sobre o assunto. Em seu livro “Uma Coincidência Sombria”, ele ainda não tem uma teoria sobre o que estaria causando os desaparecimentos, apesar de indicar que “o número de suspeitos está diminuindo”.
Em 2016, ele lançou um documentário, “Missing 411: The Movie”, co-dirigido pelo seu filho, Ben, e com a participação do especialista em sobrevivência, Les Stroud.
Entre as “circunstâncias misteriosas”, Paulides lista acontecimentos recorrentes, como cães farejadores incapazes de encontrar rastros de cheiros dos desaparecidos (98 a 99% dos casos), a janela de tempo dos desaparecimentos (normalmente ocorrem durante o fim da tarde) e o fato de que muitas das vítimas, quando encontradas, são achadas com roupas e calçados retirados.
Corpos também são encontrados em áreas previamente já investigadas com uma frequência desconcertante, muitas vezes bem ao lado das trilhas. Crianças (e seus restos) são ocasionalmente encontradas em distâncias improváveis do último ponto em que haviam sido vistas, em terreno de difícil acesso.
Crianças encontradas vivas não falam sobre sua experiência, ou dizem que não lembram do que aconteceu com elas. São normalmente encontradas com uma febre baixa e aparentam estar traumatizadas. Mesmo quando são encontradas a quilômetros de onde foram vistas pela última vez, e estão descalças, seus pés não apresentam machucados.
Ainda nos casos envolvendo crianças, os pais afirmam que elas estavam bem atrás deles quando desapareceram. Em alguns dos casos em que elas estavam acompanhadas de um cachorro, o cachorro retornou, mas a criança nunca foi encontrada.
Em 95% dos casos, o tempo estranhamente piora após um desaparecimento, apagando pegadas e outras pistas, dificultando uma busca até que ele melhore.
Paulides aponta 59 locais em que os desaparecimentos ocorrem com maior frequência, nos parques nacionais dos EUA e no sul do Canadá. Para ser classificado como um desses lugares, é necessário que tenham havido pelo menos quatro desaparecimentos. Dentre eles, destacam-se os parques Yosemite, Yellowstone, Grand Canyon e o Parque Nacional das Montanhas Rochosas.
Muitas das áreas em que as pessoas desapareceram possuem nomes como “Garganta do Diabo”, “Mirante do Diabo”, “Lago do Diabo Gêmeo”, dentre outros, refletindo, talvez, o desconforto que as pessoas sentiam nesses lugares, ao longo do tempo.
Paulides ainda recomenda que seus leitores saiam de suas zonas de conforto para determinar quem (ou o quê) é o responsável pelos desaparecimentos.
Para ele, o Departamento de Interior dos Estados Unidos saberia o número real de desaparecidos, porém não revelaria a informação por medo de que os números absurdos – e as formas como as pessoas desaparecem – espantassem o público de tal forma que o número de visitantes de parques nacionais diminuísse drasticamente.
Alfred Beilhartz foi um garotinho que desapareceu em 1938, no Parque Nacional das Montanhas Rochosas, no Colorado. Ele tinha 4 anos.
Ele estava de férias com a sua família. Eles tinham ido até o parque para pescar. Estava fazendo uma trilha com seus pais, seguindo por um caminho que acompanhava um riacho, até que seus responsáveis perceberam que Alfred não mais os acompanhava.
Após horas procurando pelo menino, seus pais decidiram pedir ajuda aos guardas florestais. Imaginando que ele tivesse caído no riacho e se afogado, a equipe de buscas o represou e dragou, mas não encontrou nada.
As buscas por terra também não renderam resultados: cães farejadores não encontraram nenhum rastro do menino.
Em uma diferente parte do parque, um casal caminhava por uma trilha, quando avistaram um garotinho em uma elevação chamada “Ninho do Diabo”, no Monte Chapin. O menino soltou um grito e caminhou para olhar pela beirada da elevação, antes de caminhar para trás e sumir de vista.
Eles reconheceram a sua foto no jornal no dia seguinte. Era Alfred.
O casal entrou em contato com o parque, que enviou escaladores para procurarem pelo garoto no monte, mas ele havia desaparecido.
Keith, na época um garotinho de 2 anos de idade, brincava ao redor do celeiro da família com seus irmãos, na manhã de 10 de abril de 1952, em Ritter, Oregon, quando foram chamados para dentro de casa.
Todos menos Keith apareceram. Uma busca superficial teve início. Logo em seguida, uma de grandes proporções tomou o seu lugar. Horas mais tarde, após uma distância de aproximadamente seis quilômetros, o grupo de buscas encontrou pegadas de Keith em uma clareira.
A busca continuou por quase 20 horas. Keith foi encontrado inconsciente sobre o leito congelado de um riacho. Ele estava a uma distância de aproximadamente 19 quilômetros da fazenda de sua família.
Nesse vídeo, o especialista em sobrevivência Les Stroud percorre o caminho que se acredita que Keith tenha tomado no evento do seu desaparecimento. É possível observar como o terreno é acidentado, e como um homem adulto tem dificuldade em movimentar-se através dele.
Kathryn, de 8 anos de idade, se perdeu nas Montanhas Ozark em 1946. Ela desapareceu após sair para caminhar ao redor do seu acampamento, sumindo na vegetação.
Ela foi encontrada viva após seis dias. O estudante da Universidade de Arkansas, Porter Chadwick, era parte do grupo de resgate que a encontrou, no local conhecido como “Toca do Diabo”. Ele relatou ao jornal “The Pittsburgh Press” que eles chamavam por ela, quando ela saiu de uma caverna calmamente, e apenas disse, “aqui estou eu”.
Outros desaparecidos nas Montanhas Ozark, porém, não tiveram a mesma sorte que Kathryn. Uma mulher, perdida há 17 dias na mesma região que a garotinha, morreu a apenas 46 metros da estrada.
Dennis estava em uma viagem de acampamento com seus pais no Parque Nacional das Montanhas Enevoadas, no verão de 1969. Ele tinha 7 anos.
Dennis e seus irmãos haviam planejado pregar uma peça nos adultos: iriam saltar de lados opostos do acampamento para assustá-los. A brincadeira terminou em tragédia, quando Dennis não apareceu.
A família, guardas florestais, e outros frequentadores do parque se espalharam para procurar pelo garoto imediatamente, mas ele não foi encontrado. Além disso, logo após o seu desaparecimento, uma chuva pesada começou a cair, o que dificultou ainda mais as buscas.
A busca por Dennis se tornou a maior na história do Serviço dos Parques Nacionais americanos. Uma das pessoas que procurava pelo garoto era o guarda florestal Dwight McCarter, que havia rastreado com sucesso centenas de pessoas perdidas, incluindo crianças pequenas.
Dwight era um rastreador experiente, e ficou impressionado com a falta de rastros. Era quase como se Dennis tivesse desaparecido por completo, sem deixar nenhuma pista. Seu sumiço ainda é um mistério.
Contudo, uma pista que os investigadores não seguiram foi o relato da família Key. Na tarde em que Dennis desapareceu, eles teriam ouvido um grito, e então viram uma criatura que se assemelhava a um “homem-urso” carregando algo em suas costas.
Algo que poderia ser uma criança pequena.
Douglas, de 8 anos de idade, e alguns de seus familiares, desapareceu em uma caminhada nas Propriedades Santanoni, nas Montanhas Adirondack, em 10 de julho de 1971.
A família havia acabado de sair, quando o tio de Douglas percebeu que a trilha estava repleta de urtigas, então recomendou que o sobrinho voltasse para casa e vestisse uma calça comprida.
Ao contrário dos outros casos citados até então, Douglas tinha familiaridade com a região, uma vez que sua família era dona de um chalé no local e o frequentava bastante. Diziam até mesmo que o garoto era um “mini-homem da floresta”.
O chalé da família ficava em uma linha reta até o trecho em que a família estava na trilha. Douglas nunca mais voltou.
Mais de 600 pessoas participaram da busca pelo garoto, que não deixou pegadas. Cães farejadores, então foram utilizados, seguindo o rastro de Douglas por 48 quilômetros de terreno acidentado.
Alguns membros do grupo de buscas afirmaram ter visto marcas de urso próximas ao local do desaparecimento. Apesar de que ursos negros arrastam suas presas, arrastar uma vítima por uma distância de 48 quilômetros não é um comportamento usual.
A família ficou desesperada, e começaram a suspeitar uns dos outros e mesmo de amigos de terem sequestrado Douglas, porém a polícia descartou essa hipótese. Até hoje o garotinho nunca foi encontrado.
Às 8 da manhã de um dia de julho de 2004, David perguntou a sua mãe se ele podia pegar as chaves do carro. Havia uma caixa de biscoitos no interior do veículo, e ele queria comê-los.
O carro estava a apenas 46 metros de distância, e sua mãe observou enquanto ele caminhou até o estacionamento próximo ao seu acampamento no Lago Grande Urso na Floresta Nacional São Bernardino, na Califórnia.
Ela voltou as costas por um segundo, e quando olhou novamente, seu filho havia desaparecido.
A mãe relatou não ter ouvido nenhum som enquanto estava de costas. Não haviam sinais de sequestro, o que fez com que esta linha de investigação fosse descartada pela polícia.
Os biscoitos ainda estavam no interior da van da família. As equipes de busca procuraram o garoto durante nove dias, sem sucesso.
Quase um ano depois, uma grupo de pessoas que fazia trilha encontrou os restos do menino a um quilômetro e seiscentos metros do local do acampamento. A suposição inicial das autoridades de que um leão da montanha teria sido responsável pelo ataque logo foi descartada, uma vez que só foram encontrados sinais de ataque de animais posteriores à morte da criança.
Muitos dos críticos de David Paulides apontam para o seu interesse paralelo como criptozoólogo como um fator que o desacreditaria como apenas um lunático.
De fato, Paulides já escreveu dois livros relacionados ao Pé-Grande, bem como criou um grupo de pesquisa chamado “North America Bigfoot Search”, do qual é diretor. Paulides afirma que o seu grupo foi fundamental na elaboração de paper publicado em 2013, o qual afirmava que o Pé-Grande era real.
NÃO. O paper nunca foi publicado. O Paulides diz que o paper era chamado de The Bigfoot DNA, e teria diversos co-autores doutores, incluindo a autora principal Dra. Melba Ketchum.. O Paulides disse ainda que vários dos maiores periódicos científicos do mundo se recusaram a publicar o paper, e que ele tem 100% de certeza que os periódicos não chegaram nem a ler o paper. Vale lembrar aqui que publicação científica passa por revisão de pares anônima, definida pelo editor do periódico. Cada paper passa por extensa revisão que pode levar anos até a publicação. Paulides diz que os comentários dos revisores PROVA que eles nem se quer leram o paper.
Esse não é um programa sobre Pé Grande, mas se quiser eu falo mais sobre a pesquisa da Dra. Melba Ketchum, que tem uma história curiosa.
A pesquisa documentava a análise de 111 amostras de DNA supostamente pertencentes ao criptídeo, as quais confirmariam a existência do lendário hominídeo.
Entretanto, essa pesquisa não mudou o fato de que a comunidade científica continua a não dar crédito à suposta existência do Pé-Grande, considerado apenas uma mistura de folclore, farsa e identificação equivocada de animais.
No que tange à pesquisa em si, a revista científica “The Scientist” a analisou, apontando que “geneticistas que viram o paper não ficaram impressionados. ‘Para dizer o óbvio, nenhuma informação ou análise foram apresentadas de uma maneira que comprove que as amostras vieram de um novo primata, ou de um híbrido entre um humano e um primata’, Leonid Kruglyak, da Universidade de Princeton, disse ao Houston Chronicle”.
Aqui vale lembrar que você não precisa “provar” algo além de qualquer dúvida razoável pra ter seu paper publicado em periódico científico. O que você precisa é de uma hipótese que tenha RELEVÂNCIA pra aquela área, e de alguma evidência robusta que aponte pra aceitar ou rejeitar esse hipótese. A maioria dos papers sem relevância são descartados por que a análise não agrega nada de novo ao que já sabemos – juntando outros papers já se chegaria a mesma conclusão. Dos paper que tem relevância e não são aceitos, o que falta geralmente é exaurir explicações alternativas plausíveis pra existência dessa evidência. Como não temos como puxar o histórico desse rejeição, fica difícil entender por que foi rejeitado. Mas provavelmente tava ruim. Ao contrário do que o público leigo acredita, acadêmico ADORA paper polêmico que perturba o status quo – só que precisa ter evidência empírica robusta pra chegar causando.
No que tange aos 411 Desaparecidos, Kyle Polich, um analista de dados e apresentador do podcast “Data Skeptic” analisou as afirmações de Paulides e chegou à conclusão de que elas não apresentam nada de incomum, sendo melhor explicadas por motivos que fogem ao insólito (incapacidade em razão de quedas, problemas de saúde repentinos, afogamentos, ataques de animais, exposição ao meio ambiente, ou mesmo desaparecimentos deliberados).
Fonte: Maurício da Fonte [DES], Priss Guerrero [REV].