American Crime Story é uma série do canal FX produzida por Ryan Murphy (American Horror Story, Scream Queens, Glee). Teve sua estreia em fevereiro de 2016, contando com 10 episódios. Cada temporada será focada em um crime/acontecimento real, e a primeira temporada é baseada no famoso (e infame) julgamento de OJ Simpson, chamando-se “American Crime Story: The People v. OJ Simpson”. A série é ambientada entre 1994, quando o crime aconteceu, e 1995, quando o julgamento foi encerrado. A segunda temporada está prevista para ser gravada em outubro de 2016, e falará sobre o Furacão Katrina e suas consequências.
O primeiro episódio começa com a descoberta dos corpos de Nicole Brown Simpson (35) e Ron Goldman (25) no corredor de entrada da casa de Nicole, a investigação policial da cena do crime e de OJ Simpson (Cuba Gooding Jr, de Selma e O Mordomo da Casa Branca) passando rapidamente de ex-marido em luto para principal suspeito. A responsabilidade do caso fica com a Procuradora Federal Marcia Clark (Sarah Paulson, de American Horror Story e 12 Anos de Escravidão) que, ao investigar o passado do ex-casal, descobre que a violência doméstica era recorrente. Em paralelo, OJ é chamado para depor e seu amigo e advogado Robert Kardashian (David Schwimmer, o Ross de Friends!) aconselha-o a contratar o advogado de celebridades Robert Shapiro (John Travolta, de Pulp Fiction e Grease) antes de se entregar à polícia. Mas OJ escreve uma carta de confissão/despedida/suicídio e foge em seu Bronco (o mesmo que fora supostamente usado na noite dos assassinatos).
A partir daí se desenrola a trama. OJ finalmente se entrega e fica sob custódia, esperando o julgamento. Ele então monta o chamado “Time dos Sonhos”, composto por aproximadamente 10 advogados, sendo Shapiro, Kardashian e Johnnie Cochran (Courtney B. Vance, de Exterminador do Futuro: Gênesis e Premonição 5) os principais. Rapidamente o caso atrai toda a atenção possível da mídia: além de OJ Simpson ser um famoso ex-jogador de futebol americano, sua defesa estava tentando de todas as formas provar que OJ estava sendo vítima de perseguição policial e que todas as evidências foram forjadas. A acusação teve um sério problema em tentar desbancar essa teoria, após vir a publico o fato de que o detetive responsável pela investigação, Mark Fuhrman (Steven Pasquale, da série Rescue Me), havia proferido discursos de ódio (gravados em fita) contra negros, mulheres e imigrantes. No fim, esse fato acabou pesando muito mais do que todas as evidências encontradas.
E olha, foram muitas. Havia sangue de OJ misturado com o de Nicole e Ron, fibras de uma touca pertencente à OJ, sangue dentro, fora e próximo ao carro de OJ, sangue nas meias de OJ (que estavam no quarto dele, em sua casa), fios de cabelo de OJ na roupa de Ron, uma luva na casa de Nicole e uma luva na casa de OJ (ambas com sangue e que faziam parte do mesmo par), pegadas que combinavam com os sapatos caros (e exclusivos) de OJ, etc e etc e etc. Foram tantas as evidências que chega a ser ridículo assistir a série sabendo o resultado do julgamento. Sabendo que OJ Simpson foi inocentado de ambos os assassinatos. E pior, sabendo que em 2006 ele lançou um livro chamado “If I Did It”, onde ele confessa os crimes, narrando em primeira pessoa o que “hipoteticamente” aconteceu.
O interessante da série é que ela nos coloca dentro de todo o processo dos times de acusação e defesa. Nós vemos todos os seus desafios com a escolha do júri que mais se encaixaria em suas vontades, os conflitos internos de opinião e ego, e até o lado pessoal sendo abalado, com suas vidas sendo expostas na televisão. É inegável que quem mais sofreu com a mídia sensacionalista foi a Procuradora Clark, que recebeu críticas referentes à sua aparência e seu modo de ser e falar, e viu fotos íntimas suas sendo vazadas em rede nacional por seu ex-marido. Uma ex-mulher de Johnnie Cochran revelou ter sido agredida por ele, mas isso não foi tão relevante quanto a roupa ou o cabelo de Marcia Clark. Difícil ser mulher dentro de uma profissão dominada por homens, né?
Outro ponto interessante foram os personagens secundários. Temos Faye Resnick (Connie Britton, das séries Nashville e Friday Night Light) e Kris Jenner (Selma Blair, de Hellboy e Segundas Intenções), socialites e amigas de Nicole Brown (Faye Resnick escreveu um livro contando sobre sua amizade com Nicole, regada a álcool e drogas, que foi um sucesso de vendas durante o julgamento); Kato Kaelin (Billy Magnussen, de Caminhos da Floresta), um aspirante a ator que estava passando um tempo na casa de hóspedes de OJ; Fred Goldman (Joseph Siravo), pai de Ron, sofrendo ao perceber que a morte de seu filho não será vingada, e com toda a mídia sensacionalista cobrindo o julgamento; e o Juiz Lance Ito (Kenneth Choi, da série Sons of Anarchy), que não teve pulso firme o suficiente para controlar o julgamento e impedir que ele se tornasse o circo que virou.
Deixo também uma menção especial à Kim, Kourtney, Khloe e Rob Kardashian, que tiveram aparições curtinhas, mas uma em especial roubou meu coração: Robert Kardashian levando-os à um restaurante no dia dos pais e dizendo que “fama é algo passageiro, não importa nada se vocês não tiverem um coração virtuoso”. HAHAHAHAHAHAH Pobre Robert, mal sabia ele…
Não sei o que dizer da série além de que achei impecável. As caracterizações, os diálogos, a forma como os episódios foram dispostos, não dava vontade de levantar do sofá até terminar de assistir tudo. Ryan Murphy é um gênio, o cara tá dando certo em todos os gêneros que experimenta, todas as produções recentes dele foram bem sucedidas (menção honrosa ao incrível The Normal Heart, da HBO) e prevejo indicações (e prêmios também) pra American Crime Story.
Agora, quanto à questão racial, o assunto é bem delicado e acho que foi tratado de forma justa pela série. De um lado vemos Johnnie Cochran, um militante dos direitos dos negros, aproveitando o caso do OJ Simpson e fazendo dele uma plataforma para mostrar as injustiças sofridas pelos negros americanos. Do outro lado temos Christopher Darden (Sterling K. Brown, da série Army Wives), que apesar de negro e de conhecer todos os erros e injustiças da polícia americana, tenta fazer com que essa questão não ofusque o julgamento e cegue o júri. Os embates entre os dois são incríveis de se assistir e, apesar de Cochran ter conseguido ganhar o caso, fica a sensação de que foi uma coisa boa feita da forma errada.
É sabido que a policia americana é extremamente racista, e os acontecimentos mais recentes só comprovam esse comentário. É possível que OJ Simpson tenha sido incriminado pela policia americana? É possível sim, mas não é provável. A polícia foi chamada várias vezes por Nicole Brown Simpson, nos vários casos de agressão física e verbal que ela sofreu, e em apenas uma dessas vezes OJ foi levado para a delegacia (e liberado logo em seguida). Era sabido que ele tinha um bom relacionamento com a polícia de Los Angeles, era uma pessoa querida pelo público. Mas também era um homem violento e ciumento, e, apesar da maioria das pessoas não conseguir assimilar a ideia, é bem comum que alguém possa ser os dois. Eu, particularmente, não acredito na teoria da policia ter forjado as evidências. Acredito no péssimo trabalho de Marcia Clark e Christopher Darden em condenar OJ Simpson.
PS: Pra galera que curte uma bebida, dá pra assistir essa série e fazer um drinking game ao mesmo tempo: Cada vez que alguém se referir a OJ Simpson como “Juice”, vire um shot; Cada vez que OJ Simpson se referir a ele mesmo como “Juice”, vire dois shots. Boa sorte!