Faz algum tempo – aproximadamente 6 anos eu acho – desde que ouvi o nome Jeff Vandermeer. Se não me engano, ouvi junto com outros nomes como China Miéville e Hal Duncan no saudoso podcast Papo na Estante sobre New Weird, mas também pode ter sido mais tarde em um Anticast sobre, não tenho certeza.
O Novo Estranho – New Weird – é teoricamente um subgênero da Ficção Científica, assim como o meu amado Cyberpunk, mas também pode ser encontrado na irmã Fantasia. Basicamente a identificação de uma obra New Weird vem da sensação de estranhamento, deslocação e incômodo que a história passa, nada é muito claro, e finais felizes não são garantidos. Por si só já é um estilo que encontra morada aqui nesse Mundo Freak, pela sua temática de coisas insólitas, curiosas e bizarras, mas a coisa toda fica ainda mais pessoal quando descobrimos que o próprio nome deste movimento e subgênero é uma homenagem ao Santo Discordiano de segunda classe (que é a classe dada a pessoas que existiram) do Mundo Freak, Howard Phillip Lovecraft das mentes fragmentadas e dos registros sobre o esquecido, e suas publicações na revista Weird Tales Magazine.
O Espírito de Lovecraft é homenageado e permeia todo o submundo New Weird, mas na obra Trilogia Comando Sul de Jeff VanderMeer, parece mesmo como uma pequena ode ao autor.
A Trilogia começa com o livro Aniquilação, lançado no Brasil pela editora Intrínseca, já conta com o segundo livro Autoridade lançado e o terceiro Aceitação esta previsto salvo engano para esse primeiro semestre de 2016.
Aniquilação começa como um relato deixado por uma mulher, a Bióloga, que se apresenta apenas assim, cujo trabalho é juntamente com outras três mulheres (a Psicóloga, A Topógrafa e a Antropóloga) entrar, explorar e tomar nota sobre uma região chamada de Área X, elas formam a 12ª equipe de incursão ao local.
A Área X é patrulhada em suas fronteiras pelo Comando Sul, um braço das Forças Armadas cuja função é entender a Área X, garantir a não interferência do mundo externo em seus limites, organizar incursões entre outras atividades de descobrimento. Até aqui, okay, sem muita surpresa. A coisa complica quando se discorre sobre a Natureza e Origem da Área X e uma função pouco divulgada do Comando Sul, a função de impedir a expansão da Área.
Surgida de uma hora para a outra, a Área X dominou e subjulgou um pedaço da natureza local, sobrepondo essa realidade com a sua, ela possui suas próprias regras, mimetizando o mundo natural original, mas atribuindo seus próprios caprichos e detalhes, que perturbam a mente humana, por demonstrar alguma inteligência e capricho. A Área X não é algo originário da terra, não pode ser.
Toda essa estrutura de relato como um diário, a presença de algo desconhecido e estranho, possuidor de determinada inteligência, fundamentalmente insano a ponto de ser negado e trazer a loucura à mente humana, é fundamentalmente Lovecraftiano. Aniquilação traz a sensação de ser uma atualização da obra de Howard Philip, com um desenvolvimento do papel do feminino – que possuía pouco espaço na cultura em geral no período de Lovecraft – em um ambiente contemporâneo. Não existe citação a deuses monstros ancestrais da mitologia Cthulhiana, mas o espírito da coisa esta lá.
Preciso lembrar também que não é uma obra de fácil leitura. É muito bem escrita, o vocabulário vasto de VanderMeer consegue capturar e nos passar a sensação de “algo errado” que a Área X possui. A narrativa porém, apesar de muito convidativa, intercala os acontecimentos da Área X com lembranças da Bióloga sobre sua vida antes daquele ponto, o que fragmenta a proposta e perde o tom do ritmo, que já não é o melhor por se tratar de uma alusão a registros de diário.
Leia.
As capas brasileiras estão lindas.
E Boa Sorte.
P.S: Rola um boato ai que vai ter adaptação cinematográfica da obra, com a direção de Alex Garland (Ex-Machina) e Natalie Portman como a Bióloga.
Informações Técnicas
Título Nacional: Aniquilação
Autor: Jeff VanderMeer
Editora: Intrinseca
Preço Médio: R$ 30,00
208 páginas