Um soco na cara da audiência com One Punch Man

De nenhuma maneira eu gostaria de fazer uma recomendação de algo com apenas dois episódios assistidos, mas pensando melhor, acho que esse fator pode ser fundamental para entender tal qual um bom murro de direita que o anime One Punch Man me conquistou.

Vamos abrir o jogo, para um fã velhaco de animes eu sou reclamão pra caramba com as últimas temporadas de lançamento. Não quero que me vejam como aquele cara que paga fortunas por um box de Cavaleiros dos Zodíaco e fica falando que “no meu tempo era melhor”, mas a crise criativa no Japão já afeta a indústria tem um tempo e do pouco que continuo acompanhando são mais adaptações de Light Novels do que de mangás certamente. Eu quero ver e conhecer coisa nova, mas engolir e vomitar diversas vezes o padrão “Shonen Jump de qualidade” as vezes é um pé no saco.

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Talvez como resultado de uma industria em crise ou pela forma como japoneses as vezes gostam de rir de sí mesmo. One Punch Man satiriza os “animes de garotos” de maneira dinâmica e certeira, tal qual é a metalinguagem do soco do nosso protagonista.

“Saitama é um jovem careca, com um físico inexpressivo e com um olhar vazio, mas ele é um herói infeliz que passa o dia entediado por ser forte demais. Ele é capaz de derrotar todos os seus oponentes com apenas um soco, e isso faz com que ele não tenha mais a sensação de adrenalina, mesmo enfrentando os monstros mais poderosos. One Punch Man retrata o dia-a-dia desse grande herói em sua tediosa vida de ajudar as pessoas e em sua busca implacável por um oponente realmente poderoso.“

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A série nasceu como uma webcomic em 2009 como criação de One (pseudônimo do autor)  e rapidamente se tornou viral. Os desenhos podem não ser lá essa maravilha, mas o roteiro rápido e mortal como uma navalha geraram um hype tão grande, que rapidamente One se tornou um dos autores mais populares da terra do sol nascente. Um remake da série logo foi feito pela Shueisha na Young Jump Web Comics em conjunto com o prestigiado ilustrador Yusuke Murata (Eyeshield 21) já lá para 2012. Em março de 2015 tivemos o anuncio oficial da feitura da animação e em outubro do mesmo ano houve a estreia pelo estúdio da excelentíssima Madhouse.

No primeiro episódio, já recheado de referência a cultura dos animes. Temos um vilão muito parecido com Piccolo (Dragon Ball Z) e outro com um titã (Shungeki no Kiojin). Somos apresentado a uma ambientação fora do comum, cidades genéricas conhecidas por letras de A à Z (que representaria a falta de importância delas frente aos monstros que as destroem, assim como todo o tokusatsu) e Saitama, protagonista que treinou tanto a ponto de ficar careca. Literalmente.

Para os padrões atuais de animação japonesa, a Madhouse fez um trabalho excelente em adaptar as loucuras produzidas pelo autor no quadro-a-quadro do mangá e está realmente surpreendente. A trilha sonora não deixa a desejar e o timing das piadas estão muito bem transportadas de uma mídia à outra.

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A animação é muito boa, mas ainda não supera o quadro-a-quadro do mangá.

A sátira em si não perdoa ninguém, desde tirando sarro das loucuras dos roteiros que não fazem sentido, passando por protagonistas fodões que se acham o máximo em derrotar os inimigos com apenas um golpe (teorizo que essa mania tenha vindo das lutas samurais dos filmes do Kurosawa, um dia comentarei isso em um texto mais específico sobre), a própria crise do Japão com a baixa taxa de natalidade, até chegar nas resoluções descabidas e deus ex machinas que as vezes só os animes conseguem fazer de maneira tão descarada.

Levar OPM com seriedade é como assistir um filme de Trapalhões pelo drama da coisa. Por isso o conselho que dou é: Sinta o felling da obra, embarque nas piadas e tenha coragem de rir de sí mesmo e dessa industria que cada dia mais nos surpreende com sua originalidade e suas loucuras.

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