Começa com passos normais e pensamentos corriqueiros: “apenas siga em frente, é pra frente que devemos ir”. Então, aquela presença surge, bem na sua nuca, quase dá pra sentir seu hálito quente. Você aperta o passo, tentando se convencer de que é tudo da sua cabeça, mas a presença te acompanha como uma sombra. Os passos rápidos se transformam em um cooper – aquilo que seu médico recomendou, 3 vezes por semana, para combater seu sedentarismo. Sua respiração pesa, a presença morde seus calcanhares como uma matilha faminta. Seu ritmo aumenta, ultrapassando os limites da sua condição física atual – incrível o que a adrenalina consegue fazer com o corpo, não é? Você jurando que tinha ouvido um canto qualquer a esta hora, em plena noite urbana. Cada vez mais perto, a presença estende a mão para alcançar seus ombros, e tudo o que seu cérebro consegue pensar para te afastar da fatal realidade é: mas afinal, onde cantam os pássaros? Sinto muito, a sombra do seu passado te alcançou.
Uma ilha anônima com uma velha fazenda. Um cão indomado e ventos incessantes. Chuvas e um rebanho de ovelhas sofrendo ataques violentos de algo desconhecido. Uma mulher sem futuro e com um passado esquecido. Essa é a história que Jake Whyte criou para si. Uma jovem com cicatrizes físicas e psicológicas que só quer encontrar um lugar onde possa ficar sozinha para ser qualquer outra coisa que não ela mesma. Quem nunca quis isso afinal?
Existem pessoas que esperam pelas oportunidades da vida e pessoas que criam oportunidades. Jake é do tipo que cria, quantas vezes forem necessárias. Fugindo de um passado que vive perseguindo seu presente, ela busca em abrigo em uma paisagem oposta, de onde outros fantasmas podem surgir.
Onde cantam os pássaros é um romance de suspense muito bem direcionado por Evie Wyld, grande promessa (cumprida, diga-se de passagem) da nova geração de escritores britânicos. A falta de linearidade da história sustenta a excitação até o fim do livro, mantendo olhos vidrados nas páginas e a respiração presa. Não indicado para pessoas com ansiedade ou curiosidade aguda. Dotada de um encanto perturbador, essa história questiona até onde os passado importa na vida de uma pessoa, e, principalmente, quantas vezes você tem o direito de começar de novo.