Não é à toa que a Europa é chamada de Velho Continente, afinal de contas, tem gente rondando por lá há milênios, gente que nasceu, cresceu, viveu, lutou, construiu, politicou … e morreu. Um passatempo bastante comum por lá é sair por aí com um aparelho detector de metais na esperança de encontrar algo … e geralmente se encontra, de diversas épocas, no geral coisas triviais como moedas ou peças metálicas do cotidiano (ferraduras, fivelas, botões de roupa, talheres, …) de séculos atrás, mas de vez em quando alguns sortudos se deparam com achados inestimáveis … e muitos um tanto misteriosos.
Pois bem, não faz muito tempo um arqueólogo amador e detectorista norueguês (assim chamam quem cultiva o hobby de procurar coisas por aí com detectores de metal) teve um dia de sorte e seu detector apitou para o que se revelou, após rápida escavação, uma cabeça de machado de combate. Como estamos falando da Noruega, um país civilizadíssimo, esse arqueólogo amador contatou imediatamente o departamento de arqueologia da universidade de Ystgaard, que logo enviou um time de arqueólogos para providenciar uma escavação adequada.
Os arqueólogos não encontraram apenas uma espada, mas o local de sepultamento de um guerreiro Viking de por volta do ano 950. Embora não tenham sido encontrados restos mortais, encontraram uma espada e os restos de um escudo. Os itens foram levados para a universidade e passaram por uma série de exames, daí começa o mistério.
Inscrições encontradas na espada indicam que ela não foi produzida na Escandinávia, onde na época não eram comuns espadas com inscrições nas lâminas. A peça era de excelente qualidade e, com certeza, não pertencia a um guerreiro qualquer. Até aí tudo bem, curioso mas nada do outro mundo. Quando os restos do escudo, porém, passaram pelo raio-x, aí que veio a grande surpresa.
Antes de chegarmos ao mistério, é preciso entender como era construído um escudo Viking. Em geral, os escudos utilizados pelos guerreiros nórdicos eram em formato redondo, feitos de madeira e tendo na parte de trás tiras de couro para prendê-lo no braço e mãos. A parte frontal -inclusive as bordas- era reforçada com tiras de metal. No centro do escudo ficava uma peça semi-esférica chamada shield boss ou umbo, que tinha função dupla: proteger a mão do guerreiro, já que o centro do escudo era vazado, e permitir um melhor uso do escudo como arma (sim, o escudo também era usado para o ataque em combates a curta distância, não apenas para defesa).
Pois bem, o raio-x mostrou algo estranho dentro do shield boss. Os arqueólogos verificaram com cuidado e encontraram restos de uma bolsa de couro que continha um pequeno peso de metal e várias moedas islâmicas de prata que foram cunhadas onde atualmente é o Iraque.
Essas evidências, (as quais também foram apresentadas neste site), indicam que o guerreiro, que um dia fora enterrado naquela tumba, era alguém viajado e as marcas variadas de espadas e machados de guerra no shield boss são evidências de que combatera em diversas ocasiões. Raramente foram descobertas moedas em sepultamentos Viking e nunca antes algo dentro de algum shield boss.
Os mistérios são vários:
– Afinal de contas, como aquele Viking conseguira aquelas moedas? Como espólio de combate como sugeriam as marcas no shield boss? Por comércio, como sugeria o pequeno peso (utilizado para fazer câmbio)?
É sabido que os Vikings saquearam Sevilha (Espanha) em 844. Os Mouros ocupavam a Península Ibérica desde 711, portanto seria factível que nosso bom amigo Viking tenha conseguido lá as moedas.
Só que os Vikings também chegaram até Constantinopla navegando pelos rios russos, onde exerceram o comércio. Talvez nosso Viking tenha comerciado por lá.
– Porque não foram encontrados restos mortais no local do sepultamento, que foi feito seguindo a tradição Viking? Será que nosso bom amigo desapareceu no meio da noite ou caiu do barco durante uma tempestade deixando para trás seus itens mais pessoais?
Esse é um daqueles mistérios que certamente nunca serão desvendados. Para nós, fica o mistério de quem foi o Viking dono desses tesouros. Por onde teria viajado, combatido, comerciado? Como morreu e porque não foi enterrado junto com suas armas? De uma coisa, porém, temos certeza … tudo isso é muito, muito estranho.