[Recomendação] A vida como ela era

Já é fim de tarde e o dia foi quente. Não, a temperatura não diminuiu. Atravesso camadas de um ar denso e abafado a cada passo que dou. Minha mira capta um banco vazio logo a frente. Mentalmente desejo que todos a volta virem estátuas para que eu possa sentar sozinho no banco, sem precisar atingir a velocidade de um maratonista para chegar até ele antes de outro. Aleluia, fui agraciado com a paz de um banco só para mim. Pseudo-atletas com o dobro da minha idade passam por mim trotando, esfregando na minha cara que se eles estão fazendo, eu deveria estar fazendo muito melhor. Malditos. Eu faço o que bem entender. Noite perfeita para um bar com amigos. Precisamos ajustar esses encontros, ando perdendo oportunidades muito boas de gastar o dinheiro que eu não tenho com coisas que eu não deveria. A noite caiu e eu nem a ajudei a se levantar. O céu de verão é mais brilhante do que todas as luzes da cidade jamais pensarão em ser. Em grande destaque, a Lua faz questão de se mostrar cheia. Tão linda é a vista que nem sofri com seu atraso costumeiro. A Lua cheia preenche todos meus pensamentos. A mesma Lua da qual vamos falar…

Você está confortável? Talvez não esteja em sua casa, pode estar na rua ou no trabalho. Está lendo isso numa tela grande ou no seu celular? O sinal da internet está bom, ou sua operadora só finge que tem 3G – enquanto você finge que acredita? Ih, deu uma esfriada, mas você esqueceu a blusa e vai ter que passar frio até a hora de chegar em casa. E quando chegar, vai tomar um banho estilo sauna para voltar a sentir os dedos dos pés. Depois do banho vaporizado cairia muito bem algo para comer. Se você for fitness vai pensar numa sopinha sem-sódio-e-sem-graça, com tantos legumes picados que quase não vai ter caldo. Se você for feliz vai pensar em pedir um x-bacon com extra bacon sem salada. E de barriga cheia vai zapear entre os canais da tv a cabo, enquanto desce pelos feeds de inúmeras redes sociais sem realmente prestar atenção em nada. Isso tudo até cair no sono entre o controle remoto e o celular.

Imagine que nada do que eu descrevi existe mais, exceto você, claro. Impossível, não é? Miranda é uma adolescente de 16 anos, que mora em uma pacata cidade no meio dos Estados Unidos da América. Sua vida não tem muitos acontecimentos, resumindo suas preocupaçõe em notas, patinação artística e Brandon Erlich – um atleta da patinação que veio de sua cidade e era cotado para o ouro olimpico. Em meio a esse sonho americano, Miranda recebe a notícia de que vai ganhar um irmãozinho, fruto do novo casamento de seu pai, que está morando em outro estado. Mas aparentemente nada disso é tão importante quanto a porcaria da Lua.

Cientistas prevêem a colisão de um meteoro na Lua, mas garantem que será algo pequeno, nada alarmante, quiçá bonito de se ver. Todos correm para fora na dita data e hora. A colisão acontece, empurrando a Lua para mais perto, tirando-a de sua órbita. Caos instaurado. Os mares ficam loucos, tsunamis engolem grande parte da costa do país, aliás, de todos os continentes. Vulcões, há muito adormecidos, cospem séculos de lava e fuligem. A gasolina vira um artigo de luxo (mais do que já é). Sem internet, sem telefone, sem energia, sem água quente ou encanada. Há de se pensar em tudo para garantir sua sobrevivencia: alimentos, remédios, roupas de frio e lenha para aquecimento.

A vida como ela era retrata não somente  a história de um apocalipse totalmente plausível, mas o desespero, a resignação e a capacidade da raça humana se adaptar as condições tão rapidamente. Crescemos e amadurecemos ainda mais com a protagonista, que se mostra forte em situações que ninguém tem certeza se seria capaz de atravessar.Em meio a tantos acontecimentos, Miranda e sua família são obrigados a provar que são muito mais fortes que a Lua.

Imagem: www.sobrelivros.com.br

Imagem: www.sobrelivros.com.br

Informações Técnicas

A vida como ela era –  Suzan Beth Pfeffer
Série Os Últimos Sobreviventes
Editora Bertrand 
2014 – 1ª Edição
Gênero: Ficção americana
375 páginas.

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