Serial Killers – Andrei Chikatilo

Antes de ter seu corpo cortado pelos dentes de seu agressor e os mamilos arrancados da mesma forma, ela jamais poderia desconfiar que aquele tímido ex-professor seria capaz de fazer mal a qualquer pessoa. Foram nos desesperados minutos que antecederam sua morte que ela percebeu que um rosto inofensivo pode esconder um monstro. Tal narrativa poderia ser parte dos livros de Robert Louis Stevenson, mas é a realidade para pessoas cujo o comportamento a ciência tenta explicar: os serial killers.

Tal fato ocorreu em um final de uma tarde de quinta-feira. A jovem Larisa Tkachenko desceu do ônibus em frente à biblioteca de sua cidade e encontrou um conhecido ex-professor. Ele, muito simpático, a convidou para tomar uma vodka enquanto conversavam sobre a vida. Para que as pessoas não começassem a falar mal de ambos, ele a chamou para uma floresta que ficava ao lado. A garota, sem desconfiar de nada, aceitou o convite.

Minutos depois, a figura pacata do professor se transformou e ele rasgou as roupas de sua vítima tentando violentá-la. Como era de costume, o estuprador não conseguiu manter a ereção e, envolto pela ira, agrediu a moça até a morte. Como não tinha nenhuma faca consigo, ele usou os próprios dentes para desfigurar o corpo da estudante. Só assim ele conseguia atingir o orgasmo.

Este foi apenas o segundo dos mais de cinquenta assassinatos cometidos por Andrei. Antes que acuse a pessoa errada, não estou aqui falando do grande CEO desta empresa vital que é o Mundo Freak. O psicopata com quem decidi começar a série de posts sobre os Piores Serial Killers da História é o ucraniano Andrei Chikatilo.

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Em 2011 publiquei meu segundo livro, Sonhos e Delírios, onde personagens reais se misturam a outros fictícios. A parte que mais gosto da obra se passa no Reino de Loucura, onde alguns dos habitantes são famosos assassinos como Ted Bundy, Charles Manson (sim, eu sei que tecnicamente ele não era um serial killer, mas discutirei isso em um post futuro) e o próprio Andrei. Para construir a história, estudei profundamente a biografia destes monstros. Mesmo desaprovando práticas criminosas, não posso negar que este tipo de assunto me fascina. Não pelo assassinato em si, mas por entender o quão intrigante pode ser a mente humana.

Como é comum em pessoas com este tipo de comportamento, Andrei Chikatilo teve uma infância difícil. Nascido em 1936 na União Soviética de Josef Stalin, ele passou fome devido à medidas políticas adotadas pelo governo. Seus pais, ambos lavradores, não recebiam nenhum salário, tendo apenas o direito a um pequeno pedaço de terra onde podiam plantar o próprio sustento. Se você pensou no feudalismo, o regime socialista vigente muito lembrava a economia da Idade Média.

Sua infância ficou marcada por uma história que aconteceu antes de seu nascimento. Sua mãe, Anna, dizia que Steven, seu irmão mais velho, havia sido raptado, morto e canibalizado por camponeses famintos. Tal fato nunca foi provado, mas ajudou a torná-lo o assassino cruel em que ele se tornou mais tarde.

Com a entrada da URSS na Segunda Guerra Mundial, seu pai foi convocado a lutar pelo Exército Vermelho, mas depois foi preso por traição por tão somente ter se rendido às tropas alemãs. O próprio Andrei guardou péssimas lembranças da ocupação nazista na Ucrânia. Com a imagem da família manchada pela prisão do pai, ele teve sua vida acadêmica comprometida, tendo a inscrição nas universidades negada mesmo com as boas notas que ele apresentava. Ele só conseguiu mais tarde se formar em um curso por correspondência.

Fervoroso defensor do regime comunista, Andrei cumpriu serviço militar obrigatório entre 1957 e 1960, trabalhando em Berlin Oriental como analista de comunicações da KGB, antiga agência de inteligência soviética dos tempos da Guerra Fria. Após encerrado seu tempo nas forças armadas, ele mudou-se para a Rússia e se casou três anos depois com Feodosia Odnacheva. A vida sexual do casal era mínima devido a uma doença que tornava Andrei impotente. Mesmo assim, eles tiveram dois filhos: Lyudmila(em 1965) e Yuri (em 1969). Segundo depoimento de ambos, ela só conseguiu engravidar porque ele ejaculou em um recipiente e introduziu o sêmen com os dedos dentro da vagina da esposa.

Andrei descobriu logo em seu primeiro crime que o que o excitava de verdade era a violência. A vítima foi uma menina de apenas nove anos de idade chamada Yelena Zakotnova. Ele capturou a criança e tentou violentá-la, mas esta se debadia e gritava bastante. Irritado, ele esfaqueou a barriga da garota três vezes e ao fazer isso, chegou ao orgasmo. Estava completo o elemento final que formou o monstro. Ele poderia ter parado neste crime, pois todas as evidências levaram a polícia a prendê-lo. No entanto, sua esposa forneceu um álibi falso e ele foi solto. Em seu lugar, foi preso e condenado a morte um inocente: Alexsandr Kravchenko, já anteriormente acusado de estupro.

A partir daí a crueldade dos crimes só aumentou. No entanto, existe um intervalo de três anos até o seu segundo assassinato: Larisa Tkachenko, mencionada no início deste post. Quando isso aconteceu, ele não mais trabalhava como professor, mas ainda era lembrado por sua antiga profissão.

O medo de ser descoberto o fez passar a escolher as vítimas entre prostitutas e moradores de rua, neste caso de ambos os sexos. Ele usava a faca como seu órgão sexual, penetrando as vítimas com a lâmina afiada. Conforme ele ia matando, as mortes iam se tornando mais impressionantes. Logo em sua terceira vítima, ele passou a comer os genitais e outros órgãos. O canibalismo o deixou ainda mais descontrolado e a velocidade dos crimes aumentou.

Sua próxima fixação foram os olhos, conforme descrevo no meu livro já citado, “Sonhos e Delírios”. Vários corpos foram encontrados com as órbitas vazias. Este passou a ser mais um ingrediente no cardápio macabro de Andrei Chikatilo. Em alguns casos, como com Olga Stalmachenok de apenas dez anos de idade, ele abria o tórax com uma faca e comia o coração e o útero.

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Tamanha brutalidade fez com que o caso ganhasse atenção especial da polícia da capital. Em Janeiro de 1983, um mês depois da morte da menina Olga, o investigador Mikhail Fetisov foi enviado para a cidade de Rostov-on-Don, onde Andrei morava. Por seis meses ele deixou de matar, mas em Junho do mesmo ano cometeu um de seus mais cruéis crimes. Foi contra Laura Sarkisyan, de quinze anos. Até setembro foram outras cinco vítimas o que finalmente fez o fechado governo soviético assumir que se tratava de um Serial Killer.

As investigações avançavam, mas a polícia não conseguia chegar ao verdadeiro culpado. Isso fez com que Andrei se tornasse cada vez mais descuidado. No começo de 1984, o sangue, sêmen, saliva e pegadas do assassino foram achados junto com um corpo e os investigadores descobriram que seu tipo sanguíneo era AB.

Em Março, várias testemunhas o viram passear junto com um garoto de 10 anos de idade, Dmitry Ptashnikov, encontrado morto três dias depois. Com isso, um retrato falado foi feito. Sua prisão, no entanto, apenas aconteceu em Setembro quando ele já tinha matado quinze pessoas apenas naquele ano. No entanto, o laboratório constatou que seu tipo sanguíneo era A e ele foi solto.

Andrei se mudou para Novocherkassk e ficou sem matar até 1985, acompanhando pelos jornais as investigações, agora sob o encargo de Issa Kostoyev. Os corpos canibalizados, desmembrados e com vários outros sinais de extrema violência continuavam a ser encontrados. Ele só foi finalmente identificado como o pior Serial Killer da URSS quando um policial disfarçado que investigava o tráfico de drogas na abandonada estação de trem de Donleskhoz o viu sair de uma área isolada e o seguiu.

Dias depois foi achado o corpo de Svetlana Korostik no local de onde o investigador viu Andrei sair. Ele foi investigado mais a fundo e finalmente preso no dia 14 de Novembro de 1990. Seu julgamento, em 1992, teve grande repercução. Ele confessou nada menos que 53 assassinatos e foi executado em 1994. No entanto, existem boatos de que seus crimes podem ter sido mais do que o dobro disso.

Por doze anos, de 1978 a 1990, ele matou livremente e apenas foi preso por uma feliz coincidência. Como ele, existem outros maníacos soltos pelo mundo. É impossível identificá-los até que eles cometam um erro e sejam presos. Eles podem estar em qualquer lugar, talvez mesmo no seu bairro ou até caminhando em sua direção, com uma arma na bolsa e um sádico sorriso no rosto.

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