Atenção! Essa resenha não contém spoilers, apenas doses cavalares de awesomeness
Acho que não seria bom começar esse texto falando do filme de 1998 de Roland Emerich, então vou jogar meu comentário sobre ele lá pro meio. Vamos falar aqui do grande filme que estreia hoje, a segunda tentativa de Hollywood fazer o filme do grande kaiju.
Para uma criança que gosta muito de monstros, ver Godzilla destruindo uma cidade (mesmo ela sendo uma maquete) é pura diversão. Hoje posso dizer que abandonei de certa forma os filmes japoneses sobre o assunto, muito por causa desse adestramento da necessidade de visual effects que tanto a industria do cinema norte americano nos enfia goela a baixo. Essa mesma industria que as vezes prefere nos mostrar um grande videoclipe de milhões de dólares sem uma história bacana.
Não me entendam mal, adorei Pacific Rim exatamente por causa disso, mas conseguirei entender quem for esperar a continuação spiritual desse filme nesse Godzilla de 2014. Sinto muito crianças, ele não é Pacific Rim 2. E se espera por isso vai se decepcionar, e muito!
Talvez o maior elemento que deixe isso claro seja a pretensão. A bagagem de trazer um dos maiores heróis japoneses é gigantesca e essa promessa é sim bem arrogante da parte de Hollywood. Godzilla vai “muito bem obrigado” na terra do sol nascente e não precisa dos comedores de fast food para se manter vivo. E o que é o grande péssimo filme de 1998? Um grande fast food que transborda nacionalismo (marca do diretor), falta de respeito com essa mesma bagagem e um incoerente roteiro para unir um desastre ambulante ao núcleo humano.
Então vos digo nobre leitor. Godzilla de 2014 é uma das melhores obras que vi no cinema nesse ano, respeitosa, inteligente e que não faz o grande kaiju se ajoelhar perante o americanismo tolo.
Essa franquia não trata de um monstro, muito menos de briga com mais de um, é um filme sobre uma catástrofe. Godzilla, como sempre correlaciono é o medo da bomba atômica. Um super herói que está lá para fazer o necessário, não para salvar a humanidade. E a justificativa dada nesse filme não só é genial, como atualiza para o ocidente uma nova mitologia para o monstro. Ele oficialmente é o protetor da terra, por mais que a humanidade não entenda isso muito bem.
A primeira hora de filme é necessária para construir a fundação dessa mitologia e digo que ela é irrepreensível. O personagem e atuação de Bryan Cranston é o concreto que une todas as motivações do núcleo humano do filme, é dramático no ponto certo, emociona e empolga. Talvez a única escorregada seja na hora de passar o bastão, já que o protagonista humano do filme usa de tons emocionais bem diferentes.
Muito do que não vai agradar desse novo filme para as massas é o ritmo em que o herói – Gojira – surge. O filme é uma homenagem aos clássicos japoneses de roupa de borracha, então esperem muito mais diálogos, drama e corre-corre. Esse é o espírito do filme. Godzilla é o Deus Ex Machina mais legal de todos os tempos. A humanidade nada consegue fazer do que ser o centro do caos entre forças da natureza agindo. Paralelo esse bem legal quando prestes a emergir da água, os banhistas de uma praia saem correndo achando que é uma simples tsunami. E o que os homens podem fazer contra uma tsunami? Absolutamente nada.
E o grande kaiju está muito bem representado, seu design é arrojado na medida certa, sem deixar para trás o original. E por muito tempo não via uma besta tão viva no cinema, diria até que a última foi em Jurassic Park. Godzilla respira, apanha e surge como ninguém, seu carisma ultrapassa a barreira, deixando claro quem é que mando no filme. Da pra sentir o silêncio da expectativa do cinema a cada aparição do monstrão, um verdadeiro respeito do expectador ao rei.
Todos saúdam o rei!