Eu queria ter gostado mais de Robocop. Não me entenda mal, o filme dirigido pelo brasileiro José Padilha não é um filme ruim. Ele é bom, mas esperava ter gostado mais do resultado final. Quando esta refilmagem estava nas mãos de Darren Aronofsky (Cisne Negro) eu era completamente contra a possibilidade de atualizar o clássico dirigido pelo Paul Verhoeven, mas a chegada de Padilha e de grandes nomes ao elenco me fizeram ter uma pequena gota de esperança.
Ano passado a campanha publicitária para o filme teve início e deu para perceber de cara que todo o conceito por trás do personagem estava modificado, atualizado, o que aumentou minha expectativa. Por fim começaram a surgir mais imagens e clipes que mostravam o Robocop se movendo e como seus sistema funcionava. Daí para frente eu estava completamente empolgado pelo filme. Veio então sua estreia e… Vamos por partes:
O cenário – Esta nova produção atualiza o mundo em que Alex Murphy vive. É um mundo conectado com celulares, Internet e câmeras por todo lado. A política é outra. Estamos em um tempo onde drones fazem patrulha e combatem pelos humanos. Ainda não temos uma inteligência artificial como a apresentada, mas estamos claramente neste caminho.
O governo e o público americano são contra a permissão de armas nas mãos das máquinas e como este mercado (de segurança nacional) é potencialmente gigantesco, a Ominicorp, maior fabricante de robôs de combate do mundo, resolve “colocar um homem dentro da máquina”, pressionando assim o Congresso a mudar a lei. Tudo isso faz sentido pois é movendo a opinião pública que empresas e a mídia manobram governos.
Nisso entra o personagem Novak (Samuel L. Jackson), um apresentador moldado à ideologia de Bill O’Reilly e da Fox News, que quer máquinas patrulhando as ruas dos EUA. Para isso irá distorcer qualquer notícia, não importa o quão bizarra seja a situação (o que fica bem claro na primeira e espetacular cena do filme).
A polícia – Aqui não temos cenários de greves e toda aquela insatisfação apresentada no original. Murphy está lutando contra a corrupção policial e tentando parar um traficante de armas. Nisso ele se envolve em um tiroteio que lembrará muito aquele em que Matias e Neto se metem em Tropa de Elite. Lewis agora é um homem, interpretado por Michael K. Williams (Boardwalk Empire) e não tem tanto destaque quanto a parceira do original, mas o ator segura bem o papel.
O robô – Muitas dúvidas existiam quanto à nova roupa do Robocop. Que ela seria preta, que haveriam diversas versões, que ele agora seria ágil e até daria grandes saltos. Padilha faz um excelente trabalho em mostrar todas estas decisões como coisas coerentes no mundo em que Murphy vive. Ele ainda faz todos os barulhos do robô de 87, mas a velocidade e as trocas de armadura são condizentes com os avanços tecnológicos deste novo filme.
Você pode estar se perguntando porque não gostei do filme se até agora só teci elogios. É no elenco que estão pontos extremamente forte e fracos do novo Robocop. Enquanto o elenco de apoio dá um show à parte é o núcleo familiar do Murphy que puxa o filme para baixo como uma âncora.
O elenco – Joel Kinnaman (The Killing) parece um robô durante o percurso. O problema é que ele parece estar robotizado desde a primeira cena. Enquanto Peter Weller fazia uma interpretação contida em seu Robocop, o ator sueco não consegue passar muita emoção atémesmo em uma cena chave do filme, quando Murphy descobre realmente o que aconteceu com ele. Seria um momento para arrancar lágrimas da plateia de tão pesado, mas ele não transmite quase nada.
Abbie Cornish (Sucker Punch) não mostra a que veio, nem mesmo quando é apresentada à foto de seu marido ferido. Sem contar que a esposa do policial sempre parece estar maquiada para um casamento, mesmo nos momentos mais tristes de sua vida (algo que me incomodou extremamente). O filho do casal, interpretado por John Paul Ruttan poderia ser desculpado por ser uma criança, mas existem crianças em novelas brasileiras atuando melhor que este garoto.
O núcleo familiar do Murphy deveria ser aquilo que aproximaria o público do sofrimento do personagem e eu nunca senti esta conexão. Por outro lado a equipe da Omnicorp (veja que não estou usando o nome OCP e isso é explicado no filme) dá um show.
Michael Keaton (Batman) faz sua versão de Steve Jobs, como CEO da empresa. Uma pessoa cheia de ideias e que se acha acima da lei por ter dinheiro e poder em suas mãos. Gary Oldman (Batman Begins) está excelente como um cientista que se curva aos interesses financeiros pelo avanço científico. Ele é aquele cientista que aceita trabalhar com projetos militares tendo como objetivo arrecadar fundos para pesquisas mais nobres. Decisão que representará um interessante arco de personagem. Jackie Earle Haley (Watchmen) é o especialista militar da empresa, que não deseja ver um homem dentro da máquina, pois isso só comprometeria a eficiência de seus robôs. Jay Baruchel (É o Fim) faz o alívio cômico por parte dos vilões interpretando um publicitário que só quer ganhar mais dinheiro e popularidade para a empresa.
Direção – Uma coisa que me surpreendeu positivamente foi a competência do José Padilha como diretor de cenas de ação. Os tiroteios do Robocop e principalmente sua luta contra diversos ED-209 foram muito bem realizadas e coreografadas. Ele usa bastante a câmera na mão e muitas vezes nos vemos no meio da ação. Algumas pessoas identificaram isso como uma estética de vídeo-game, mas para mim ele usou isso como inspiração para criar cenas mais empolgantes.
Mas não são só as batalhas que o diretor acertou. As cenas entre Robocop e o seu criador estão entre os pontos altos do filme, pois você pode ver o personagem de Oldman querer ajudar Murphy a se encontrar como homem dentro da máquina. A maneira como ele resolve os crimes, usando a tecnologia “disponível” atualmente também foi muito bem bolada.
Por outro lado o “chefão final” do filme me pareceu um pouco forçado. Não posso dizer como o terceiro ato se desenrola, mas apesar de achar a motivação deste vilão plausível, ela traria uma complicação maior ainda para outros personagens, fazendo o fim do filme aparentar meio forçado, ou usando uma bela de uma deus ex machina*.
A última cena do Novak é bastante ácida, deverá levantar sobrancelhas nos EUA e causar a fúria de parte do país. Por outro lado podemos ver nas redes sociais brasileiras que nem mesmo a mais clara crítica é entendida quando a pessoa não tem poder de interpretação. Esta última cena foi o que mais me lembrou Tropa de Elite, pois poderá ser levantada como bandeira por um lado do país ou como indireta por outro. Da mesma forma como aconteceu com Capitão Nascimento quando o primeiro filme foi lançado.
No fim das contas você tem em suas mãos um filme divertido, que levanta muitos questionamentos e te deixa livre para os entender ou não. Por outro lado também terá que passar por cima de uns furos e de atuações fracas por parte de uma parcela do elenco.
Recomendo a qualquer um este novo Robocop, mas assim que chegar em casa reveja o clássico e tire suas conclusões.
* http://pt.wikipedia.org/wiki/Deus_ex_machina