Parece que voltamos para a era medieval e toda semana está marcado um linchamento em praça pública. Peguem suas tochas e ancinhos que é hora de massacrar alguém. O alvo geralmente são celebridades ou empresas que tomam alguma decisão errada, mas de vez em quando sobra para algum anônimo que ganhou indesejados 15 segundos de fama.
A vítima mais recente foi o ator, produtor e diretor Ben Affleck. A notícia de que ele seria o Batman no novo filme do Super-Homem iniciou uma reação em cadeia nas redes sociais e blogs. O lado positivo é que a maior parte do que se viu era apenas de pessoas expressando suas opiniões contrárias à escolha. Até aí acredito que todos tenham o direito a uma opinião.
O problema é quando estas reclamações viram agressões e ameaças no mundo real. Um fenômeno que anda se tornando muito real na indústria dos games. Recentemente Jennifer Hepler, roteirista principal de Dragon Age 2, deixou a produção de Inquisition (novo game da franquia) após ameaças que recebeu de fãs dos jogos.
Em entrevista ela nega o fato, dizendo que vai se focar em projetos alternativos e em um livro que está escrevendo. O que aconteceu (e muitos acreditam ter sido o motivo real para sua demissão) foram ameaças de morte que ela e seus filhos vinham recebendo. As agressões chegavam através de fóruns, redes sociais e inclusive telefonemas. Pessoas disseram que matariam seus filhos no caminho da escola pois eles deveriam ter sido abortados antes de nascer, afinal este seria um destino melhor do que ter Hepler como mãe.
Desta vez os agressores saíram vitoriosos pois conseguiram afastar a roteirista de seu tão amado jogo. Outro caso que moveu gamers em fúria foi o final de Mass Effect 3. Eu fui uma das pessoas que odiou aquele desfecho, mas minha revolta se resumiu a “xingar muito no Twitter”. Infelizmente ameaças e a agressividade de algumas pessoas fizeram Greg Zeschuk e Ray Muzyka, fundadores da Bioware, deixarem a empresa que criaram e o mundo dos games. Eles afirmam que este não foi o motivo principal para a mudança de carreira, mas admitem que toda essa negatividade teve um peso na decisão.
Em julho, Marcus Beer (conhecido como Annoyed Gamer no site Gametrailers) fez declarações um tanto ofensivas contra Phil Fish, desenvolvedor do sucesso indie FEZ. Após uma briga que os dois tiveram no twitter, Fish declarou “I fucking hate this industry” (“Eu odeio essa indústria”) e pouco depois tweetou “im done. FEZ II is canceled. goodbye” (“já deu, FEZ II está cancelado. Adeus”).
Outro caso recente foram as ameaças de morte contra David Vonderhaar, diretor de design da Treyarch, que cometeu o pecado de mudar o balanceamento de armas no game Call of Duty: Black Ops 2. Pessoas disseram que ele devia se matar ou morrer queimado em um incêndio, pois era uma péssima pessoa. Isso porque o cara mudou o BALANCEAMENTO de uma arma.
Eu não preciso dizer o quão absurdo isso tudo pode soar, mas coloque-se no lugar da pessoa. Já pensou se milhares de desconhecidos enchessem sua conta no Twitter de mensagens agressivas só porque você não realizou o seu trabalho da maneira que eles queriam? Parece ruim, certo? Agora imagine alguém ligar para sua casa e ameaçar sua família por causa disso.
A decisão de colocarem Affleck como o Batman não será a primeira e nem a última que a indústria do entretenimento fará que poderá te tirar do sério, mas lembre-se: é só um filme (livro, game, série de TV, história em quadrinhos). A vida continua e não é isso que vai mudar significantemente a sua. Reclame, coloque a boca no mundo, mas tente não ofender muito e por favor não parta para a violência. Joel Schumacher já escangalhou 2 Batmans, depois veio o Nolan. Cascão já tomou banho, mas as revistas seguiram e melhoraram depois de passado o choque. Shit happens, então sobreviva e siga adiante, pois como dizia o senhor Wayne: “Porque nós caímos, Bruce? Para aprendermos a levantar.”