Esse texto é obviamente um contra ponto à matéria feita pela Folha sobre o comportamento do público brasileiro frente aos jogos online. Então o ideal é que você leia-o antes para ter um pequeno contexto.
“Brasileiros ganham fama ruim praticando assaltos e arrastões em jogos on-line“
A polêmica levantada pela matéria sobre as atitudes de certos jogadores nacionais não é novidade, existe, mas não quer dizer que seja necessariamente dessa forma em todos os lugares. A matéria traças os tipos de arruaças mais comuns como mendigagem, assassinatos online, roubos e spams.
A matéria tem como foco o jogo (polêmico já em seu nascimento) DayZ. Aonde simulamos um apocalipse zumbi. Com isso já começamos a primeira forçada de barra, o jogo tem em sua proposta a possibilidade de passar por cima de outros jogadores e obter seus mantimentos e armas. Cada jogador joga de seu jeito, montando grupos, agindo sozinhos seja contra outros jogadores ou grupos das criaturas assim como nos filmes de zumbi.
O argumento já surge ruim, se você não quer lidar com a opção de ser morto pelo seu companheiro não jogue, simples assim. Há outras opções de jogos mais adequados para quem não goste.
Lançar um jogo no mercado tem seus grandes méritos, sem falar nos online aonde se exige uma quantidade razoável de bons servidores capazes de aguentar o tranco de milhares, as vezes milhões de pessoas conectadas enquanto a parte “humana” da coisa é ignorada. Falta de moderadores, falta de regras adequadas e limitação do que o jogador pode ou não fazer.
Desde que me lembro sempre joguei todos os tipos de jogos online, sempre gostei do conceito já que nem sempre contava com vários amigos para jogar lado a lado.
Traçando um paralelo com DayZ, temos Tibia. Uma comunidade imensa que já abrigou milhares de brasileiros em meio a poloneses, americanos, russos e mexicanos. O jogo online também permitia a existência dos pk (player killers), levando em consideração que ser um assassino de jogadores levava a sérias penalidades, como perda maior de itens quando morto e a marcação de uma caveirinha ao lado do nickname que atraia o ódio de muitos heróis querendo a cabeça desses vilões.
Lá existiam máfias inteiras especializadas e até haviam registros do controle de economia virtual dentro de servidores específicos. Sim, se você vendesse sua arma acima do preço da tabelinha do clã, era caçado até voltar aos níveis iniciais. E essas máfias não se resumiam a meia dúzia de brasileiros querendo “aprontar altas confusões”, muitas outras nacionalidades entravam na brincadeira e guerras inteiras em nome da xenofobia eram declaradas.
Existiam jogadores brasileiros babacas? Sim, assim como todos os outros, a diferença é que o público nacional que conhecia o jogo cresceu e infelizmente nunca houve suporte da CipSoft para abraça-los, então é muito mais fácil cair dentro da marginalidade dos grupos brasileiros e acabar repetindo as mesmas atitudes.
Deixei o jogo pela quantidade de vilões acabar suprimindo os heróis e os moderadores terem abandonado completamente o jogador a sua própria sorte. É ruim quando acontece? Claro! Mas por isso conheci outros jogos online que eram muitos melhores quando o assunto é comunidade online.
Segundo a matéria, na teoria seria impossível então jogar um game apenas com brasileiros. Um dos jogos que conheci depois de deixar Tibia era Ragnarok online, jogava em um servidor apenas de brasileiros e nunca tive uma experiência tão boa e me senti tão abraçado por uma comunidade.
Lá foi onde consegui meus primeiros colegas virtuais e adentrar em um clã. Fui muito ajudado com dicas e adentrei grupos de desconhecidos bem atenciosos para aumentar o nível de meu personagens em ambientes aonde os monstros eram mais difíceis. Havia também um suporte pela Level Up e uma ótima tradução para nossa língua madre.
Um dos últimos jogos que consigo ter o prazer de aproveitar e que também trás consigo uma grande polêmica com relação a comunidade é Dota. Apesar de hoje jogar o 2 pela Steam, já me aventurei demais com o 1 pelos servidores do garena. E uma coisa que percebi com os anos é que o grande problema é com relação a faixa etária.
Muitos jogadores de Dota americanos levam o jogo bem a sério, se importam com estratégias e parecem em sua maioria ser um público mais velho que o brasileiro. O jogo aqui assim como League of Legends tem um grande apelo com o público com cerca de 13 anos que não se importam muito com regras ou não tem paciência para aprender um mínimo de inglês em um jogo em que montar o time certo é tudo para vencer.
A conclusão que chego é que a matéria da Folha é parcial. Todas as características ali descritas são verdade, mas não é privilégio de brasileiros e quando é me atrevo a dizer que é responsabilidade da produtora responsável por lidar com a moderação dos servidores. Se a solução é bloquear acesso por país, abrir servidores nacionais, investir em uma tradução ou contratar mais moderadores com o interesse de punir quem quebra as regras eu não sei, mas com certeza é um caminho melhor do que a simples e pura xenofobia.