Chronicle – Poder Sem Limites é uma tradução justa, tendo em vista que é feito por pessoas que visivelmente não tem senso para a coisa. Justa pois foi o mais próximo que chegamos de um filme de Dragon Ball, arranhado por Matrix: Revolutions. Mas o filme em sí tem muito mais a oferecer que isso.
O filme custou 12 milhões, direção de Josh Trank, que foi responsável por alguns filmes pouco conhecidos. E da mesma forma, seu roteirista Max Landis. Responsáveis por um filme de superpoderes no estilo que já cansou muitos, HandCam (Filmagens estilo Bruxa de Blair e Cloverfield, já que todo mundo compara não serei eu a tentar não faze-lo). Há alguns trabalhos bem interessantes vindo de pessoas talentosas, marginalizadas pela falta de estrelato, que com uma chance conseguem estourar, como foi Distrito 9. E esse é o caso de Chronicle.
Apesar de ter ficado receoso com o trailer contando praticamente todo o linear da história. Fiquei impressionado do quanto o filme tem muito mais a mostrar. Comentamos ele em um dos blocos do Freakzone Podcast #4 – As crônicas dos Imortais da Steam.
O plot é: Três jovens acabam ganhando poderes telecinéticos de maneira misteriosa pelo que parece ser um meteoro, e o estilo de filme caseiro mostra as suas vidas mudando a partir daí, até que um deles fica louco e acaba por se tornar um “super-vilão”.
Não se enganem, não tem galhofagens desnecessárias, o filme é crível, o roteiro faz todas as motivações e personagens estarem ali, agindo da maneira como devem, em um mundo que nada tem haver com Metrópolis. O mundo é comum, e isso me chamou atenção, foi essa explosão de verácidade em um mundo que poderia muito bem ser o nosso. O que você faria se tivesse superpoderes?
Descobrimos essa resposta, aceitamos, rimos, tememos e nos importamos. Pois tudo funciona como deveria, num mundo crível como ele o é.
Os primeiro minutos do filme são excepcionais, são bem divertidos e empolgantes. Com os personagens testando os novos poderes a torto e a direito, e creio que é nessa parte que o expectador é capturado. O carisma dos personagens e a situação incrível, nos sentimos ali, como se estivéssemos zoando entre eles. Nada do tipo “Hancock“, para quem venha a comparar, Chronicle dá um banho em muito filmeco aí que custou bem mais, com atores mais “renomado”.
Andrew, o personagem principal do filme. É um herói caído. Não na maneira literal, mas o arquétipo dele demonstra como tudo a sua volta vai corrompendo sua mente e autoestima, em um momento pequeno de sucesso, mostrando que não importa o quão incrível ele pode ser, continuará sendo Andrew. Um garoto que tem a mãe na cama, o pai bêbado e violento, sofrendo bulling no colégio. Admito que já pensei em fazer coisas do tipo por muito menos, todos nós. Temos Steve, o afro do grupo, carismático e responsável. Ele é construído de maneira aceitável, quer ser representante e futuramente, um político. Acaba fazendo um papel melhor e mais desenvolvido do que o terceiro personagem, que devia ser o apoio de Andrew, Matt, seu primo é um personagem que apesar de mal desenvolvido, consegue não estragar o desenvolvimento. Diria que essa é a única falha mais visível do roteiro, Matt não consegue em momento nenhum controlar ou menos, ser o “irmão” que Andrew não tem, nem sabemos as motivações dele para isso, apesar de serem primos. Steve poderia tomar esse papel facilmente.
Agora, não posso deixar de mencionar, a sua semelhança com a animação japonesa clássica motherfucker dos anos 80. Akira. É óbvio que o roteirista viu Akira. Indiscutível. Andrew é Tetsuo, um personagem sem base emocional e psicológica para seus poderes incríveis. Ciúmes e inveja corróem os dois personagens a ponto de perderem a humanidade e se tornarem megalomaníacos homicidas. Até a cena final, com Andrew usando roupas de hospital é uma “homenagem” a Tetsuo, que foge do laboratório da mesma forma.
Os efeitos visuais são medianos, justificável pelo baixo orçamento. Mas não destoa muito, aqueles que mais são acostumados com efeitos visuais conseguem notar que eles se destacam um pouco, mas não a ponto de prejudicar o filme (tirando a cena do lego que foi deveras tosca). As lutas são muito legais, um show de como-fazer-cinema-ao-estilo-porradaria-com-superpoderes. Tocando mais uma vez na tecla, o filme consegue ser crível até em uma luta com superhumanos usando telecinese. Os filmes sitados acima ficam no chinelo, e olha quem nem falei de Dragon Ball: Evolution. E faz você perceber o quão tosco é um cara de collant azul, capa vermelha e cueca por cima da calça não fazendo nem metade do que eles conseguem.
E o estilo handcam vale a pena? Sim. Ele não tenta forçar a barra de enganar o expectador como sendo “histórias reais de uma câmera achada por aí”. Para mim ele só fez abrir portas para o estilo, quando outras só demonstraram mediocridade em tentar pegar carona em sucessos anteriores com o estilo “inovador”. Ele inova de verdade, já que com telecinese, você pode fazer o que quer. Percebeu a sutileza das possibilidades? Ele cumpre o papel, e é uma pena que na parte final, quando são pegos vários aparelhos eletrônicos ao mesmo tempo o diretor não tenha brincado com isso melhor. Mas fica aí a dica pro próximo.
No mais, recomendo o filme, e muito! Existem cenas muito interessantes, nunca vistas antes na tela grande do cinema, e só por isso valeria o ingresso. Mas além disso o roteiro é redondo, a plot é empolgante e os personagens carismáticos. Além do bom humor estar presente, sem estragar o clima do filme.