Salve, salve, nobres leitores. Aqui quem vos fala é o investigador Paulo Henrique e dessa vez continuaremos contando um pouco das lendas urbanas e folclores do Brasil afora. Hoje, falarei de algo mais pessoal, pois meu pai (como um bom vendedor) já viajou por quase todo o território brasileiro, de capitais ao interior, ouvindo muitas histórias e guardando muitas emoções. Quando eu era mais novo, meu pai me contava essas histórias e passarei a vocês a lenda do Canaimé ou Cainamé, o vingador.
Em uma de suas viagens (meu pai não se recorda bem onde estava, apenas lembra que estava bem ao norte do país), meu pai ouviu de um velho que cuidava de um boteco (que dizia que era um antigo pajé de uma tribo, e que meu pai novamente não lembra o nome ao certo), uma história que todas as crianças da região conheciam. A história começava mais ou menos assim: muitos índios que praticavam a maldade e cultivavam isso em seu coração, buscado vingança e a morte de seus inimigos quando morriam, tinham a alma tão pesada que não conseguiam passar para o outro lado e assim ficavam presos a este plano. Alguns desses espíritos buscavam conforto entre as plantas e certa vez um espírito muito poderoso de um pajé encontrou em uma planta chamada TAJÁ ( Caladium bicolor vent) e com sua força espiritual fez essa planta crescer e se reproduzir cada vez mais. Um dia, um velho feiticeiro encontrou essa planta na serra e resolveu cuidar dela, através da ingestão desta adquiriu poderes dos antigos e utilizou esse poder para acabar com seus inimigos, dentre esses poderes estavam a invisibilidade e a capacidade de se transformar em animais, tais como o macaco, o tamanduá, a raposa, o porco, a mucura etc.
O mal começou a crescer no coração de vários homens, pois muitos começaram a encontrar a planta e utilizar seus poderes para o mal, apelidando o local de Serra dos Canaimé – traduzido do Macuxi como “Espírito maligno”; o Canaimé só ataca quando a vítima está sozinha, assustando e fazendo com que ela desmaie, assim corta sua língua e seu pulso e ainda insere folhas tóxicas em seu reto. Supostamente o espírito torce para que a vítima não lembre de nada, pois um bom pajé conseguiria curar a vítima (segundo o dono do boteco, ele mesmo já teria curado uma vítima de um Cainamé). Contudo, se a vítima já estiver morta não há cura, o espírito maligno volta depois do enterro da vítima para se alimentar da carne putrefata do defunto.
O Cainamé consegue se misturar dentro da comunidade e muitas vezes só ataca pessoas de outras comunidades, o espírito precisa se alimentar, caso contrário se alimenta do próprio detentor da TAJÁ ou de seus entes queridos. Quando em forma animal, só pode ser morto por uma flecha de cera e na forma humana, apenas se for coçado por um tufo de pelo do macaco Cuatá (Ateles), pois ficaria muito incomodado, se transformaria em um macaco, subiria em uma árvore bem alta e se jogaria lá de cima.
Vale ressaltar que para escrever este texto fiz algumas pesquisas para acrescentar nomes científicos e tentar deduzir de onde era esse conto. Por uma “complexa” triangulação de informações descobri que essa lenda é do interior de Roraima e em algumas vertentes esse espírito mata apenas quem maltrata a natureza; ressalto ainda que escrevi o conto de uma maneira mais literária e de acordo com as normas da gramática, porquanto se eu fosse escrever como meu pai me contava ficaria da seguinte forma: seje, menas, caboclo, índio véio. Algo bem mais popular, assim como ele ouviu do velho homem.
Bom, nobres leitores, fico por aqui. Deixem nos comentários se já tinham ouvido falar desse folclore, se acreditam ou se é apenas um conto para assustar fazendeiros das terras dos índios. Obrigado por ficarem até aqui e lembrem-se: Não olhem para trás.